Panorama geral e setorial da economia criativa no Brasil
A economia criativa demonstrou crescimento de 4% no seu nível de emprego entre o 4º trimestre de 2022 e o 4º trimestre de 2021, com a criação de cerca de 308 mil novos postos de trabalho. Nesse período, o maior crescimento de postos de trabalho se deu entre 2022.1 e 2022.2, quando o setor registrou uma ampliação de 6% no nível de emprego.
Fonte: Painel de Dados do Observatório Itaú Cultural (2023).
A taxa de aumento no emprego da economia criativa mostrou-se igual (em termos percentuais) ao total da economia brasileira: no 4º trimestre de 2022, o emprego total na economia brasileira apresentou crescimento de 4% em relação ao 4º trimestre de 2021, também tendo sua maior recuperação entre 2022.1 e 2022.2.
Fonte: Painel de Dados do Observatório Itaú Cultural (2023).
Entre o 4º trimestre de 2021 e o 4º trimestre de 2022, quase todos os segmentos da economia criativa apresentaram crescimento nos seus níveis de emprego, com destaque para os trabalhadores de apoio (trabalhadores não criativos empregados pelos setores criativos), que tiveram um crescimento de 8% no emprego (mais 200 mil postos de trabalho), e os trabalhadores incorporados (trabalhadores criativos empregados fora dos setores criativos), apresentando um crescimento de 7% (mais 124 mil postos de trabalho). Os trabalhadores especializados trabalhadores criativos empregados nos setores criativos) tiveram relativa estabilidade no emprego entre 2021.4 e 2022.4. Chamamos a atenção para os trabalhadores especializados do agrupamento de Consumo, que apresentaram queda de 3% (uma redução de 42,8 mil postos de trabalho).[1]
Fonte: Painel de Dados do Observatório Itaú Cultural (2023).
No conjunto dos trabalhadores criativos, nove categorias ocupacionais apresentaram crescimento entre o 4º trimestre de 2020 e o 4º trimestre de 2022: Artes Cênicas (39%), Cinema, Rádio e TV (26%), Arquitetura (14%), Música (13%), Publicidade (12%), Desenvolvimento de Software e Jogos Digitais (11%), Editorial (9%), Gastronomia (9%) e Demais Serviços de Tecnologia da Informação (8%). Para além dos setores que mantiveram certa estabilidade durante o período, como os do agrupamento de Tecnologia da Informação, destacamos a retomada das categorias de Artes Cênicas, Cinema, Rádio e TV e Música, que apresentaram oscilações, mas com tendências positivas durante o período. Destaca-se o aumento dos trabalhadores criativos especializados da Música, segmento que, além de ter a maior variação positiva percentual, também teve a maior variação absoluta (crescimento de 44.820 postos de trabalho). A recuperação do setor da Música parece estar alinhada com o retorno dos grandes eventos, em especial os festivais de música. No caso das categorias de Artes Cênicas, Editorial e Cinema, Rádio e TV, este é o maior número de trabalhadores especializados ocupados em cada uma das categorias em toda a série histórica disponível. Nesse sentido, é um movimento diferente do restante da economia, que teve o maior crescimento nos postos de trabalho entre 2022.1 e 2022.2, enquanto as categorias citadas apresentaram aumentos de postos de trabalho entre 2022.3 e 2022.4.
As demais categorias de trabalhadores criativos apresentaram perdas em postos de trabalho: Moda (-17%), Atividades Artesanais (-8%), Artes Visuais (-12%), Design (-11%) e Museus (-24%). Em termos absolutos, os que mais perderam postos de trabalho foram Moda (-123.620) e Atividades Artesanais (-47.733). No caso da Moda, como já ressaltado em Boletim anterior, há uma grande fragilidade setorial, com a informalidade ficando em torno de 75%, o que leva a grandes variações na quantidade de trabalhadores. Em relação às Atividades Artesanais, após um grande crescimento durante o período pandêmico, a categoria parece estar apresentando oscilações com tendências de arrefecimento e diminuição dos postos de trabalho.
Fonte: Painel de Dados do Observatório Itaú Cultural (2023). Nota: * - Amostra não significativa.
Análise sobre a formalização do mercado de trabalho criativo
Quanto ao tipo de vínculo de trabalho, observa-se, entre os 4º trimestres de 2021 e 2022, o segmento formal da economia brasileira e da economia criativa tiveram aumentos nos postos de trabalho, 8% e 7%, respectivamente. Nos dois casos, há uma tendência clara de crescimento dos empregos formais desde 2021.4. No caso dos informais, a tendência é de queda a partir de 2022.2.
Fonte: Painel de Dados do Observatório Itaú Cultural (2023).
Segmentando os trabalhadores incorporados, especializados e de apoio entre as faixas formal e informal, observa-se que quase todos os segmentos obtiveram crescimento entre o 4º trimestre de 2021 e o 4º trimestre de 2022, com exceção dos trabalhadores especializados informais (-2%) e dos trabalhadores de apoio informais (-5%). Os trabalhadores de apoio formais se destacam pela variação positiva expressiva de 17%, seguidos pelos trabalhadores incorporados formais, que tiveram crescimento de 8%.
Fonte: Painel de Dados do Observatório Itaú Cultural (2023).
Observa-se a maior fragilidade dos trabalhadores informais em todas os tipos analisados a partir das grandes flutuações (positivas ou negativa) entre um trimestre e outro: enquanto os trabalhadores formais apresentaram variação de no máximo 5%, os informais, por sua vez, apresentam variações de 12% entre um período e outro.
Geografia da economia criativa no Brasil
Ao desagregarmos por região, percebemos que as unidades federativas com maior número de trabalhadores, ou seja, São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais e Santa Catarina, apresentaram crescimento consistente no período analisado. Paraná foi o único estado entre os 10 com mais trabalhadores a apresentar queda (-3% entre 2021.4 e 2022.4, e -1% entre 2020.4 e 2022.4). Em contraponto, a Bahia teve aumento substantivo no período analisado, chegando a uma variação positiva de 41% entre 2020.4 e 2022.4, ou cerca de 80.964 postos de trabalho.
Fonte: Painel de Dados do Observatório Itaú Cultural (2023).
Economia criativa no Brasil: questões de raça e gênero no mercado de trabalho
O emprego na economia criativa possui alta concentração de trabalhadores autodeclarados brancos, principalmente homens, embora o segmento das mulheres brancas seja o segundo recorte racial e de gênero com maior participação na economia criativa. Desde o início da série histórica da PNAD Contínua, os homens e mulheres brancos representaram cerca de 60% dos empregados na economia criativa. O terceiro recorte com maior participação, nos últimos anos, é o de homens pardos, seguido das mulheres pardas.
Fonte: Painel de Dados do Observatório Itaú Cultural (2023).
No período entre o 4º trimestre de 2012 e o 4º trimestre de 2022, os trabalhadores da economia criativa autodeclarados pretos foram os que obtiveram maior crescimento no seu nível de emprego, sendo esse crescimento expressivo observado tanto para as mulheres quanto para os homens que se autodeclaram como pretos. Em 2022, a quantidade de homens e mulheres pretos na economia criativa foi 90% maior do que a observada em 2012. Contudo, conforme mostra o gráfico anterior, esse crescimento não acarretou um aumento significativo na participação desses trabalhadores no total da economia criativa. Observa-se também que os homens brancos e pardos tenderam a crescimento no seu nível de emprego na economia criativa, enquanto as mulheres brancas e pardas, embora com oscilações ao longo dos anos, estão no mesmo nível de emprego observado no 4º trimestre de 2012. Outra observação importante é o comportamento do emprego dos homens brancos durante a pandemia da Covid-19: no 4º Trimestre de 2020, todos os recortes de gênero e raça observados tiveram queda no emprego em relação ao 4º trimestre de 2019, com exceção do recorte de homens brancos, que seguiu tendência de crescimento que se manteve até 2022.
Fonte: Painel de Dados do Observatório Itaú Cultural (2023). Nota: Índice: 2012.4 = 100.
Tais movimentos no emprego levaram a uma queda na participação dos brancos no total de homens empregados pela economia criativa entre o 4º Trimestre de 2012 e o 4º Trimestre de 2022, caindo 5 pontos percentuais, e a um aumento da participação dos pardos, que passou de 6% para 9% nos homens e de 4% para 8% nas mulheres. Entretanto, é evidente que a composição não alterou de forma estrutural o caráter predominantemente branco do emprego na economia criativa.
Fonte: Painel de Dados do Observatório Itaú Cultural (2023).
Os homens brancos também se destacam por possuírem salários mais altos do que todos os demais recortes observados. Em média, as mulheres brancas recebem apenas 60% do salário dos homens brancos, as mulheres pardas recebem 37% desse valor e as mulheres pretas 34%. Embora essa diferença tenha caído em relação ao início da série histórica, ainda há grandes desigualdades.
Fonte: Painel de Dados do Observatório Itaú Cultural (2023).
Outra questão importante é a diferença, entre as raças e gêneros, da escolaridade dos trabalhadores da economia criativa. Em 2022, mais da metade da força de trabalho dos homens brancos possuía ensino superior completo, enquanto cerca de 30% dos pretos e pardos possuíam esse nível de escolaridade. Já entre as mulheres, destaca-se a triplicação da parcela de mulheres negras na economia criativa com ensino superior completo entre 2012 e 2022.
Fonte: Painel de Dados do Observatório Itaú Cultural (2023).
Essas diferenças acabam por impactar a questão de seguridade social dos trabalhadores. Observa-se que quase 80% dos trabalhadores homens brancos estão protegidos com alguma contribuição à previdência, enquanto nos pardos e pretos essa parcela é pouco menor de 70%. Nas mulheres, a situação é relativamente mais precária. Apenas metade das mulheres pretas e pardas da economia criativa contribuem para a previdência, enquanto a situação das mulheres brancas se equipara ao padrão dos homens pretos e pardos. Ao longo dos anos, não houve mudanças significativas na composição dos trabalhadores que contribuem para a previdência na economia criativa.
Fonte: Painel de Dados do Observatório Itaú Cultural (2023).
[1] Este boletim inaugura a nova abordagem metodológica do Painel de Dados, que pode ser compreendida em detalhes aqui. Os novos agrupamentos reúnem categorias setoriais com dinâmicas similares. No total, são três agrupamentos: Consumo (arquitetura, design, moda, editorial, publicidade); Cultural (atividades artesanais, artes cênicas, artes visuais, museus e patrimônio, música, cinema, rádio e TV); e Tecnologia (demais serviços de tecnologia da informação, desenvolvimento de software e jogos digitais).