Panorama geral e setorial da economia criativa no Brasil

Entre o 4º trimestre de 2022 e o 4º trimestre de 2023, o emprego na economia criativa demonstrou variação positiva de 4% (+287 mil postos de trabalho). Alcançando o número total de 7.747.315 trabalhadores, o mercado de trabalho da Economia da Cultura e das Indústrias Criativas (Ecic) atinge seu maior patamar desde o início da série histórica disponível.[1] Após registrar uma queda de 4% (-291 mil postos de trabalho) no emprego entre o 4º trimestre de 2022 e o 1º trimestre de 2023, o mercado de trabalho da economia criativa apresentou recuperações consecutivas nos trimestres subsequentes. Desse modo, entre o 1º e o 4º trimestres de 2023, a recuperação nos setores culturais e criativos acumularam a criação de mais de 577 mil postos de trabalho.

          Fonte: Painel de Dados da Fundação Itaú (2024).  

A taxa de variação no emprego da economia brasileira foi de 2% (1,6 milhões de postos de trabalho), entre o 4º trimestre de 2022 e o 4º trimestre de 2023. Também indicando relativa estabilidade no nível de emprego, como visto no recorte para a economia criativa, houve uma queda entre o último trimestre de 2022 e o primeiro de 2023, seguido de uma retomada entre o primeiro e o último trimestres de 2023, que acumularam a criação de 3,1 milhões de postos de trabalho.

        Fonte: Painel de Dados da Fundação Itaú (2024).    

Entre os quartos trimestres de 2022 e 2023, o único segmento[2] da economia criativa que apresentou queda foi o de trabalhadores de apoio[3] (-1%). O restante dos segmentos apresentou aumento no nível de emprego, especialmente os trabalhadores especializados de Tecnologia, que tiveram aumento de 22% no total de ocupados. Esse também foi o segmento com o maior aumento no emprego entre o 3º e o 4º trimestres de 2023 (7%), período no qual somente trabalhadores de apoio apresentaram pequena queda  (-0,26%).

Fonte: Painel de Dados da Fundação Itaú (2024).             

No conjunto dos trabalhadores criativos (somatório de especializados e incorporados), as categorias ocupacionais que apresentaram crescimento significativo entre os quartos trimestres de 2022 e 2023 foram: Design (29%), Música (24%), Desenvolvimento de Software e Jogos Digitais (18%) e Gastronomia (16%). No caso de Design, Música e Desenvolvimento de software e Jogos digitais, o crescimento se repetiu para trabalhadores especializados. Dentre estes últimos, a categoria de Demais Serviços de TI também apresentou crescimento significativo no período (20%). Por fim, para os trabalhadores incorporados, chama atenção o crescimento da categoria de Design (57%) e Moda (40%). Este último vinha apresentando oscilações e perdas durante todo o período de 2022. Dentre as perdas de postos de trabalho, o mais interessante é a dinâmica apresentada pela categoria Editorial, que apresentou queda significativa dentre os trabalhadores especializados (-20%) e trabalhadores criativos (-8%), ainda que tenha apresentado aumento dentre os trabalhadores incorporados (10%). Este movimento, no âmbito da atividade Editorial, parece confirmar a crise do setor, com uma migração dos trabalhadores para fora da Economia da Cultura e das Indústrias Criativas para trabalharem em outros setores econômicos.

* - Amostra não significativa

Fonte: Painel de Dados da Fundação Itaú (2024).

 

Análise sobre a formalização do mercado de trabalho criativo

Quanto ao tipo de vínculo de trabalho, entre os 4º trimestres de 2022 e 2023, observa-se uma ampliação mais intensa dos postos de trabalhos formais na economia criativa (+3%), comparativamente à formalização do agregado da economia brasileira (+1%). Ainda assim, no mesmo período, nota-se que a economia criativa registrou um aumento mais intenso da informalidade (+5%) comparativamente à formalidade (+3%). No agregado da economia brasileira, a informalidade ampliou-se em 3%. Observa-se, ainda, que o aumento da informalidade na economia criativa parece ter ocorrido de forma mais significativa entre o terceiro e o quarto trimestres de 2023.

Fonte: Painel de Dados da Fundação Itaú (2024).              

Analisando-se o tipo de vínculo de trabalho para os agrupamentos de trabalhadores incorporados, especializados e de apoio, observa-se que os trabalhadores informais do segmento de apoio foram os únicos a apresentar uma queda (-8%) entre os quartos trimestres de 2022 e 2023. Em contrapartida, os trabalhadores especializados informais registraram aumento de 6%. Já entre o 3º e 4º trimestres de 2023, os destaques foram para os segmentos de trabalhadores incorporados informais e especializados formais, com crescimento de 8% e 6% no nível de emprego, respectivamente. De modo geral, observa-se um movimento de ampliação do nível de formalização dos trabalhadores de apoio e, em paralelo, um aumento da informalidade nos demais segmentos.

Fonte: Painel de Dados da Fundação Itaú (2024).

 

Geografia da economia criativa no Brasil        

Em termos regionais, entre os quartos trimestres de 2022 e 2023, observa-se expressivo crescimento relativo do emprego na economia criativa em Sergipe (+28%), Roraima (+27%), Alagoas (+25%) e Goiás (+18%), enquanto as maiores quedas foram registradas no Maranhão (-18%) e Piauí (-14%).

Fonte: Painel de Dados da Fundação Itaú (2024).   

 

Dimensões de gênero e raça/cor

Quanto ao gênero, observa-se que o perfil dos trabalhadores da economia criativa permaneceu basicamente o mesmo durante os quartos trimestres de 2023 e 2024. Esta configuração é próxima à configuração do agregado da economia brasileira, com uma maior participação masculina na composição da força de trabalho. Contudo, na economia criativa, a participação feminina é ligeiramente maior em relação ao total da economia brasileira: 45% e 43%, respectivamente.

Fonte: Painel de Dados da Fundação Itaú (2024).   

No 4º trimestre de 2023, o emprego na economia criativa segue com alta concentração de trabalhadores autodeclarados brancos (57%, contra apenas 41% de negros - pretos, 8% e pardos, 33%). Demais grupos, como amarelos e indígenas, respondem por apenas 1%.[4] Essa composição segue persistentemente similar desde o 4º trimestre de 2022.

Fonte: Painel de Dados da Fundação Itaú (2024).        

A participação de negros (agregado de pretos e pardos) na economia criativa mostra-se menos expressiva do que para o agregado da economia brasileira. Entre os quartos trimestres de 2022 e 2023, a participação de trabalhadores negros no total de ocupados na economia criativa foi de, em média, 41%, ante os 55% observados no agregado da economia brasileira. De forma análoga, portanto, observa-se que, no período em apreço, a participação de brancos no mercado de trabalho da economia criativa (57%, em média) é mais expressiva do que para o agregado da economia brasileira (44%).

Fonte: Painel de Dados da Fundação Itaú (2024).          

Quanto aos trabalhadores criativos (trabalhadores especializados e incorporados), também de forma persistente para o período analisado, observa-se que os negros possuem participação mais significativa no emprego nas ocupações do agrupamento de Cultura (cerca de 50%, em média) - ou seja, nas áreas de Atividades Artesanais, Artes Cênicas, Artes Visuais, Cinema, Rádio e TV, Música e Museus e Patrimônio - do que nas ocupações de Consumo (38%, em média) e Tecnologia (34%, em média). As ocupações criativas de Tecnologia, portanto, registram a menor participação de negros (pretos e pardos) dentre os três agrupamentos de trabalhadores criativos.

Fonte: Painel de Dados da Fundação Itaú (2024).      

Considerando, por sua vez, o segmento dos empregados dos setores criativos (trabalhadores especializados e de apoio), os setores que tradicionalmente possuem uma maior participação de trabalhadores pretos e pardos no total de empregados são: Moda (51%, em média, para o período em análise), Atividades Artesanais (48%) e Artes Cênicas e Visuais (48,5%). A alta concentração de trabalhadores brancos ocorre especialmente em Publicidade e Serviços Empresariais (65%), Design (63%), Arquitetura (67%) e Tecnologia da Informação (70%).

Fonte: Painel de Dados da Fundação Itaú (2024).   

No 4º trimestre de 2023, o salário médio da economia criativa (R$4,5 mil) segue sendo superior (em cerca de 50%) ao salário médio da economia brasileira (R$3 mil). Ainda sim, quando focalizada, a transversalidade das desigualdades de gênero e raça/cor da economia brasileira também se expressam na economia criativa. Ou ainda, as disparidades salariais segundo aspectos de gênero e raça/cor também se manifestam em diferenças nas médias salariais da economia criativa brasileira.

 Fonte: Painel de Dados da Fundação Itaú (2024).  

No quarto trimestre de 2024, os salários médios de pretos (R$2,8 mil) e pardos (R$3 mil) seguem sendo cerca de 45% menores do que os dos trabalhadores brancos (R$5,3 mil) da economia criativa. Além disso, em todos os grupos raciais analisados, as mulheres auferem salários inferiores aos dos homens. Para o trimestre em análise, os salários das mulheres (R$3,2 mil) é, em média, 42% inferior ao dos homens (R$5,6 mil).

Observa-se, ainda, que os trabalhadores brancos, independentemente do gênero, auferem rendimentos superiores em comparação com os trabalhadores pretos e pardos. Em termos específicos, um homem preto ou pardo recebe aproximadamente 40% a menos do que seu equivalente branco, uma tendência que se mantém entre as mulheres pretas e pardas comparativamente às brancas. Destaca-se, ademais, que as mulheres pretas (R$2,2 mil) continuam enfrentando uma disparidade significativa, com uma média de rendimento mensal quase 67% inferior à registrada entre os homens brancos (R$6,9 mil).

Fonte: Painel de Dados da Fundação Itaú (2024).   


[1] Utilizando dados trimestrais da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNADc), divulgada periodicamente pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o Painel de Dados da Fundação Itaú extrai, sistematiza e divulga informações sobre o mercado de trabalho da Economia da Cultura e das Indústrias Criativas (Ecic) a partir de informações disponíveis desde o 1º trimestre de 2012. Acesse, aqui, a metodologia completa do Painel de Dados da Fundação Itaú.

[2] A abordagem metodológica do Painel de Dados propõe o agrupamento dos setores culturais e criativos em três grandes grupos, quais sejam: Cultura (Artes Cênicas, Artes Visuais [incluindo fotografia], Atividades Artesanais, Cinema, Rádio e TV, Música e Museus e Patrimônio); Consumo (Arquitetura, Design, Editorial, Moda e Publicidade); e, Tecnologia (Desenvolvimento de Software e Jogos Digitais e Tecnologia da Informação).

[3] Os trabalhadores da economia criativa correspondem ao somatório de três conjuntos de trabalhadores: os especializados, ou seja, trabalhadores criativos que são empregados nos setores criativos (por exemplo, um músico atuando no setor de Música); os de apoio, trabalhadores que atuam nos setores criativos, mas têm ocupações que não são consideradas criativas (por exemplo, um advogado atuando no setor de Audiovisual); e os incorporados, trabalhadores que são criativos, mas que atuam em outros setores da economia (por exemplo, um designer atuando no setor Automobilístico).

[4] Reforçando que há uma baixa representatividade desses dois últimos grupos na população brasileira como um todo, o que também é expresso nas demais pesquisas censitárias oficiais.