Quando o nome da fotógrafa é mencionado, automaticamente ele é ligado a seu grandioso e mundialmente conhecido trabalho sobre a nação Yanomami. Sem perder de vista essa produção, que se tornou um patrimônio iconográfico, a mostra Claudia Andujar – cosmovisão joga outras luzes sobre o percurso fotográfico seguido por ela entre as décadas de 1960 e 1970, até seu encontro definitivo com esse povo indígena.
A exposição entra em cartaz em 3 de abril e segue até 30 de junho nos pisos -1 e -2 do Itaú Cultural, com curadoria de Eder Chiodetto. Ela reúne mais de 130 trabalhos de Claudia, realizados durante seis décadas, desde que, fugindo do nazismo partiu da Hungria para os Estados Unidos. Depois de uma temporada naquele país, em 1955 ela desembarcou em São Paulo para encontrar a sua mãe e aqui viver até hoje (acompanhe a sua bio-cronologia aqui).
Entre os destaques da mostra, um novo trabalho seu: uma releitura colorida de O voo de Watupari, resultado da travessia que fez em 1976, ao lado do missionário Carlo Zacquini. Eles viajaram de São Paulo até a Amazônia a bordo de um fusca preto que os levou até os Yanomami. Também merece atenção especial, a instalação A Sônia, apresentada por ela em 1971 no Masp, em uma subversão do uso da projeção de slides – uma novidade na época. Aqui, a obra é exibida em releitura do artista Leandro Lima, parceiro de Claudia em outros projetos.
“Quando o Itaú Cultural me chamou para fazer essa mostra logo pensei em encontrar um recorte novo, já que convivo com Claudia faz tempo e conheço bem outras faces de sua obra”, conta Chiodetto. Segundo o curador, ao investigar a produção da artista mais a fundo, desde que ela chegou em São Paulo em 1955, ele se deu conta do seu importante papel para a experimentação e a expansão da linguagem fotográfica. “Ela teve forte influência, por exemplo, para que a fotografia entrasse nos museus como arte nos anos de 1970”, diz.
“Esta é uma exposição inédita. Tem foco nesse alto grau de experimentação pelo qual ela fez a fotografia passar. Fica claro que, como filha da geração de 68, rebelde e que repensa o mundo, Claudia sente necessidade de recriar a linguagem fotográfica para pode ser expressar”, continua ele. “Em nenhum momento de sua trajetória, nem quando trabalhou na revista Realidade, ela fotografou em um padrão documental tradicional”, completa.
Claudia fazia uso de filmes fotográficos infravermelhos, cromos riscados, filtros monocromáticos, imagens refotografadas com distorções e mutações de luzes e cores, justaposições e duplas exposições. Para Chiodetto, estas eram estratégias para chegar à representação da percepção sensorial. “Isso permitiu que, anos mais tarde, a artista pudesse materializar em imagens a espiritualidade, a relação dos indígenas com as entidades e guardiões da floresta”, diz o curador. “Ela precisava que a fotografia atravessasse a superfície do real para representar de forma potente o lado de lá, o não visível. Só conseguiu isso justamente por essa experiência anterior de expansão da linguagem e possibilidades fotográficas.”
As 135 obras de Claudia Andujar estão divididas em 11 séries, expostas em dois andares do espaço expositivo do Itaú Cultural.
Começa com as séries Pesadelos e Homossexuais. A primeira é um ensaio que a fotógrafa publicou na revista Realidade, em 1970, para uma reportagem sobre os avanços da ciência no campo psíquico. Nela, Claudia demonstra sua desenvoltura técnica e conceitual ao propor imagens enigmáticas e perturbadoras por meio de sobreposições, mutações cromáticas e descolamento da gelatina do negativo revelado com alta temperatura. Na segunda, ela usa outras estratégias técnicas para a concepção das imagens de modo a não revelar as identidades das pessoas homossexuais fotografadas e para criar atmosferas diversas. Eram tempos de ditadura e opressão, também, à homossexualidade e ela precisava preservá-los.
É este mesmo piso que abriga a inédita O Voo de Watupari. As imagens que a artista fez em P&B há 48 anos durante sua viagem para a Amazônia a bordo do fusca preto, agora foram reconstituídas por ela com o recurso da sobreposição às imagens de peças acrílicas coloridas, montando, desmontando e remontando as mais diversas hipóteses de leitura, até chegar às que lhe agradassem.
O nome desta série tem uma história: em Yanomami, “watupari” significa urubu. Quando os indígenas viram o carro que a transportava, acharam engraçado e diziam que parecia com esta ave, mas sem asas. Por fim, concluíram que, como o veículo a levou até ali, ele fez um voo de watupari.
Em O sonho verde-azulado, a fotógrafa faz uma ode ao onírico e à harmonia entre a natureza e o ser humano. Este trabalho faz parte de seus primeiros registros em terras Yanomami. Claudia havia feito várias fotografias em preto e branco da jovem indígena Paxo+m+k+. Em 1982, ao revê-las, ela refotografou os retratos com filme infravermelho e, em etapas sucessivas de manipulação, conferiu a eles as tonalidades verde e azulado.
Além das séries Malencontro, Minha vida em dois mundos e Cidade gráfica, neste piso, tem Reahu, o invisível, que registra importante ritual indígena ligado à morte e à ressurreição em imagens que parecem demonstrar a separação do corpo e do espírito. Ela alcançou este efeito por meio de múltiplas exposições, baixa velocidade de obturador e uso experimental do flash. É a única série toda copiada de forma analógica, em papel de prata, especialmente para a exposição.
Aqui, o público encontra três salas independentes. Uma abriga A Sônia, em um ambiente imersivo-cinestésico. Trata-se de uma releitura da instalação de mesmo nome apresentada por Claudia em projeção de slides no Masp, em 1971. Na ocasião, ela ocupou uma sala com vários desses projetores, então considerados inovadores. As suas projeções em diversas direções e simultaneamente eram ultra coloridas, acompanhadas de música. Chegavam a provocar um efeito visual lisérgico por meio de um plástico espelhado acondicionado no centro da sala, onde a luz e as imagens batiam e voltavam para o espectador.
Vale contar que Sônia era uma mulher negra e baiana, que sonhava em se estabelecer como modelo em São Paulo. Ela precisava de boas fotografias para montar seu portfólio e levar às agências, mas não tinha recursos para isso. Claudia fez as fotos em troca de autorização para usar as imagens que julgasse necessárias para o seu projeto.
Outra sala exibe a série Sonhos Yanomami. São fotos feitas por ela a partir de 1976, quando viveu com os indígenas durante um ano – acabou expulsa pelos militares, acusada de ser uma perigosa espiã estrangeira. Anos mais tarde, em 2002, devido às suas experiências em justaposição de retratos e paisagens, ela conseguiu chegar a uma representação muito próxima das imagens que os Yanomami relatam quando voltam do transe xamânico. Alcançar essas imagens era seu grande desafio.
Naquele ano, Claudia manuseava os cromos dessas fotos em sua casa quando percebeu que alguns deles haviam se fundido, resultando em registros visuais muito próximos dessas mirações. Quando seus amigos indígenas as viram disseram que, sim, era assim mesmo. Deste modo, a fotógrafa conseguiu tocar com a sua arte o não visível.
Aqui, é apresentado um audiovisual editado por Lima em uma alusão a esse processo de aproximação das imagens para gerar uma outra. As obras da série estão expostas nas paredes do mesmo andar.
Uma terceira sala deste piso exibe um audiovisual do livro de fotos Amazônia (Praxis, 1978), publicado por Claudia e George Love, editado por Regastein Rocha, com design do artista Wesley Duke Lee e prefácio do poeta amazonene Thiago de Mello – cujo texto foi depois censurado pela ditadura militar.
Como nas demais exposições do Itaú Cultural, Claudia Andujar – cosmovisão contém recursos de acessibilidade. Além das audiodescrições, mapas e pisos táteis em cada andar, ela exibe objetos táteis de obras das séries Cidade Gráfica e O voo de Watupari, no piso -1 e de A Sônia, Sonhos Yanomami e do livro Amazônia, no piso -2.
3 de abril a 30 de junho de 2024
Pisos: -1 e -2
Curadoria: Eder Chiodetto
Concepção e realização: Itaú Cultural
Itaú Cultural
Avenida Paulista, 149 – próximo à estação de metrô Brigadeiro
Visitação: terça-feira a sábado, das 11h às 20h; domingos e feriados, das 11h às 19h.
Entrada: gratuita
Mais informações:
Telefone:
(11) 2168-1777
Whatsapp:
(11) 963831663
E-mail:
atendimento@itaucultural.org.br
Acesso para pessoas com deficiência física.
Estacionamento: entrada pela Rua Leôncio de Carvalho, 108.
Com manobrista e seguro, gratuito para bicicletas.
TEATRO
Trilha para as estrelas
Grupo Barracão de Teatro
Estreia em 7 de abril (domingo),às 16h
Sala Vermelha – Itaú Cultural (59 lugares)
Segue em cartaz todos os domingos até julho
Duração: 55 minutos
Capacidade: 59 lugares
Classificação Indicativa: livre, segundo autodefinição
Entrada gratuita
Ingressos: https://itaucultural.byinti.com/#/ticket/
IC PLAY
Gyuri
A partir de 3 de maio
Documentário
Direção: Mariana Lacerda
Duração: 1h 28min
Roteiro: Mariana Lacerda e Paula Mercedes
Acesso gratuito em www.itauculturalplay.com.br e dispositivos móveis Android e IOS.
Encontros IC Play
Exibição de Gyuri
Seguida de conversa com a diretora Mariana Lacerda e o filósofo húngaro Peter Pál Pelbart
Previsto para o dia 30 de abril, às 19h
Sala Vermelha – Itaú Cultural (59 lugares)
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