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No centenário de nascimento de Paulo Freire, o Itaú Cultural dedica sua nova Ocupação ao filósofo da educação

O educador, também escritor e patrono da educação brasileira, desde 2012, é o homenageado da 53ª mostra da série Ocupação da instituição. Ela mergulha em sua trajetória desde o nascimento no Recife, em 1921, até a morte em São Paulo, em 1997. A infância, o desenvolvimento intelectual, a experiência em Angicos – onde aplicou o método de alfabetização reconhecido em todo o mundo –, seu exílio e o retorno ao Brasil traçam a linha contínua e coerente de sua existência apresentada nesta exposição.

De 18 de setembro a 5 de dezembro, o Itaú Cultural realiza a Ocupação Paulo Freire em homenagem ao centenário do filósofo, escritor e educador. Além da exposição presencial, ela conta com atividades on-line – entre encontros semanais com intelectuais, que estudam ou conviveram com ele, para falar de sua obra; podcast e programação organizada pelos educadores da instituição.

Complementa a Ocupação, uma publicação impressa com artigos, depoimentos e entrevistas de convidados representantes de diferentes áreas de conhecimento e expressão, como saúde, segurança, música, teatro, fotografia, arquitetura, inclusão, educação e sua internacionalização. A arte-educadora Ana Mae Barbosa; Ilse Schimpf-Herken, fundadora e diretora do Instituto Paulo Freire em Berlim, na Alemanha; Eymard Vasconcelos, pioneiro na pesquisa e na prática da educação popular na saúde, e André François, fotógrafo e fundador da ImageMagica, entre outros, contam como têm relacionado o seu trabalho aos saberes apreendidos de Freire. No site estão disponíveis parte do material exibido na mostra e conteúdos exclusivos.  

A curadoria é dos Núcleos de Audiovisual e Literatura e de Educação e Relacionamento. Com expografia assinada por Thereza Faria, a mostra ocupa toda a sala Multiuso, no piso 2 da instituição. Ela acompanha a trajetória de Freire, desde o nascimento, em 1921, passa pelo desenvolvimento do seu método de alfabetização – que, implantado em Angicos (RN) acabou ganhando dimensão internacional – e o segue nos diferentes países onde viveu, durante o exílio forçado pelo período militar, até seu retorno e atuação no Brasil, onde morreu em 1997.  

Trata-se da 53ª mostra da série Ocupação realizada no Itaú Cultural, desde 2009 com o objetivo de fomentar o diálogo da nova geração de artistas e intelectuais com os criadores que a influenciaram. Ocupação Paulo Freire começou a ser planejada há mais de dois anos. Devido à pandemia, acabou tendo a sua produção realizada inteiramente on-line. Ainda, a mostra integra a rede de instituições parceiras da 34ª Bienal de São Paulo.   


Exposição
Uma animação com as páginas manuscritas de Pedagogia do Oprimido, o mais conhecido livro de Freire, abre o caminho para a exposição. Um mapa interativo, chamado Paulo Freire pelo mundo, a encerra. Ele mostra todos os lugares que o educador alcançou nos diversos continentes com a sua obra, o trabalho de alfabetização de adultos e o compartilhamento de saber e ideias sobre a educação. O educador chegou a mais de 30 países e a repercussão de suas propostas comporta mais de três dezenas de livros – parte deles, pertencentes ao acervo do Itaú Cultural, estão em exibição em uma estante na mostra.  

Freire ainda foi merecedor de pelo menos 41 títulos Honoris Causa e foram realizadas dezenas de pesquisas sobre ele e sua obra, que também se desdobraram em Cátedras, Centros Acadêmicos, institutos e grupos de pesquisa. Homenagens e premiações como cidadão honorário, prêmios, medalhas, placas comemorativas de eventos, troféus, certificados diversos, condecoração e nomes de escolas, são outros dos reconhecimentos ao trabalho de Paulo Freire.  

Entre a animação e o mapa, a exposição se estende pelos 170 metros da sala Multiuso, dividida em quatro eixos – Formação, Angicos, Exílio e Retorno. No conjunto, apresenta cerca de 140 peças, entre 60 fotografias que registram Freire nas mais diversas situações e localidades no Brasil e no exterior, vídeos e dezenas de seus originais – do Livro do Bebê, feito pelos seus pais quando ele nasceu, a manuscritos de sua autoria, como À sombra desta mangueira, Pedagogia da Esperança e Pedagogia da Autonomia.  

São originais, também, poemas e cartas, enviadas por ele e recebidas. Ainda, ali são exibidas suas marginálias encontradas em livros de autores como o pintor Johann Moritz Rugendas, Erich Fromm, Aldous Huxley ou Caio Prado Júnior, que eram dele e hoje fazem parte do conjunto nomeado pelo Instituto Paulo Freire de Biblioteca pré-exílio.  

Cartazes e ilustrações utilizados nas chamadas 40 horas de Angicos, nome do município do Rio Grande do Norte onde, pelo método freireano, cerca de 300 pessoas foram alfabetizadas em 40 horas, também fazem parte da mostra. É farto, ainda, o material documental e imagético de suas passagens pelo Chile e outros países como Quênia, Guiné-Bissau, Cabo Verde, Angola e São Tomé e Príncipe, além da Suíça, onde viveu e trabalhou nos últimos anos antes de voltar para o Brasil.  

O eixo Formação traz a nordestinidade de Paulo, com destaque para a sua infância, a família, a casa em que nasceu e se alfabetizou, no Recife – onde havia a mangueira sob a sombra da qual escreveu as primeiras palavras usando gravetos.  

Em Angicos, de 1960 a 1964, encontra-se grande número de documentos e imagens que remetem a esta pequena cidade do Rio Grande do Norte e esmiúçam a experiência de alfabetização que ali desenvolveu. Entre eles, a documentação elaborada por Freire para a formação dos educadores envolvidos na experiência, material pedagógico e como eram feitas as aulas. Destaque, ainda, para documentos sobre o Plano Nacional de Alfabetização e outras aplicações do Sistema de Alfabetização Paulo Freire – o planejamento dos círculos de cultura pelo país e as experiências de alfabetização aplicadas no Acre, Rio de Janeiro, Santa Catarina, São Paulo, Distrito Federal.  

Exílio, abrange 1964 a 1980, quando o regime civil-militar o fez permanecer em exílio por 16 anos.  Há registros de sua saída do Brasil pela Bolívia antes de se instalar no Chile, onde escreveu Pedagogia do Oprimido, além de seus anos vividos nos Estados Unidos e na Suíça, suas atuações, na década de 1970, no Instituto de Ação Cultural (Idac) e a liderança de programas de educação e alfabetização em países africanos.  

Nesse núcleo encontram-se outros importantes documentos do período, como as 14 folhas grampeadas do inquérito policial sobre a sua atuação na universidade, que acabou resultando em sua saída país.  

Por fim, o eixo Retorno, de 1980 a 1997, mostra a vida de Paulo Freire quando voltou ao Brasil com a anistia e começou a dar aulas na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC/SP), na Universidade de Campinas (Unicamp) e em outros círculos universitários. Em 1986, recebeu o Prêmio Educação para a Paz, da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco). Passados três anos, em 1989, se tornou secretário municipal de Educação da prefeita de São Paulo Luiza Erundina. Paulo Freire morreu em maio de 1997, aos 75 anos, um ano após a publicação de Pedagogia da autonomia, sua última obra.  

Este eixo encerra o percurso pela Ocupação e ainda revela a internacionalização de seu trabalho entre o mapa interativo e uma variedade de itens, como materiais de formação de educadores, minutas para projetos de lei prevendo melhoria das condições de trabalho dos profissionais e outros para a divulgação de ações específicas, como a criação e/ou reativação de conselhos de escola.  


Acessibilidade
Um mapa tátil posicionado na entrada do espaço expositivo representa a mostra entre relevos, apresentando ao visitante cego os temas da mostra e sugerindo percursos. Piso podotátil auxilia o deslocamento do visitante por meio da marcação, no piso da exposição, de um trajeto sugerido de circulação e indicações de pontos de interesse, onde estão disponíveis materiais acessíveis em áudio.  

Nesta exposição, há ainda, objetos táteis reproduzindo materiais relacionados ao Método de Alfabetização de Paulo Freire. Entre as sete faixas de audiodescrições são apresentados os núcleos da mostra e os materiais que os compõem. Há audiodescrições dos objetos táteis e da instalação interativa Paulo Freire pelo mundo e nos vídeos presentes no espaço, que também tem interpretação em Libras.  

Tablets fixados nas paredes com videoguias, elaborados pelo educativo do Itaú Cultural para apresentar a ocupação ao público surdo, propõem trajetos e diálogos. Eles estão divididos em quatro faixas temáticas, em consonância com os núcleos da exposição, e trazem conteúdos complementares à curadoria.

De 18 de setembro a 5 de dezembro

Itaú Cultural
Avenida Paulista, 149 – próximo à estação de metrô Brigadeiro.
Sala Multiuso – Piso 2

Ingressos:
gratuitos

Funcionamento: terças-feiras a domingo, das 11h às 19h

Informações: pelo telefone (11) 2168.1777. Atualmente, esse número funciona de segunda-feira a domingo, das 10h às 18h.
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