PRESSKIT

AMIGA,

 

 

 

Aqui estou novamente. As saudades são tantas e o receio também. Por isso quase desisto de buscar a sua casa, moradia que tanto me aquece. E se não nos encontrarmos mais? E se você tiver me colocado em algum lugar de uma defensiva deslembrança? E se o silêncio que se alojou em cada uma de nós provocar um efeito amnésico apagando nossas fraternais experiências vividas em tempos anteriores?

 

 

 

Amiga, o que fizemos de nossos desejos de encontros? O silêncio se tornou a nossa fala? Por que a nossa letra fugiu de nós mesmas parecendo se esconder no tempo do esquecimento? Tenho mais que saudades. Experimento um tipo de banzo, que me leva a sonhar com o território que abandonamos, logo depois de ter sido fecundado com nossos gestos de ternura e que distinguia uma terra-letra que queríamos como nossas.

 

 

 

Você se lembra do chão onde firmamos nosso pacto? Creio que, se olharmos o solo, ainda veremos fortes vestígios de nossos passos, que vieram de longe, de muito longe... Veremos pegadas de mulheres que se inscreveram em nossa vida, antes mesmo de nossas escritas tomarem formas concretas de publicações. Aqueles passos anteriores, nossos presentes e os que virão hão de se emparelhar, nos possibilitando o cruzamento de mãos.

 

 

 

Então, amiga? Vamos ferir esse silêncio que nos machuca e reascender o pacto de criação de Cartas Negras? Vamos? Foi um momento tão fecundo. Havia tanta intenção em nossa fala-sentimento que entendi nossos gestos da hora, como uma celebração do nascimento de uma criação que se multiplicaria entre nós. Tenho relido as poucas cartas trocadas entre nós, precisamos celebrá-las. Façamos novos rituais. Façamos de Cartas Negras nossas ofertas, nossas dádivas e nossos recebimentos mútuos.

 

 

 

Amiga, você se lembra do momento primeiro da fecundação de Cartas?
Um acasalamento em grupo de vozes-mulheres. Nossas vozes. Em casa de Miriam, ao sabor de um encontro regado com nossos risos, nossa euforia e teimosia em crer em nós mesmas. Gestamos tudo, escreveríamos cartas umas às outras. As cartas circulariam entre nós: Miriam Alves, Lia Vieira, Esmeralda Ribeiro, Sonia Fátima da Conceição e eu. Geni Guimarães, que não estava presente naquele momento, foi trazida pela memória de Miriam. Vozes-letras de seis mulheres se multiplicariam, pois cada uma criaria sua carta a partir da recebida e enviaria da mesma forma para cada uma
da confraria de mulheres. Fecundada, a parir escrita em pensamentos, retornei à minha casa e, antes mesmo de desfazer a mala de viagem,
enviei uma carta inicial. Assim as primeiras cartas foram trocadas.
Hoje, relendo algumas que encontrei entre os meus guardados, pergunto:
o que houve? Por que interrompemos nossas águas, ora mansas, ora revoltas correndo o risco de nos entregar à secura? Por que abafamos nossas chamas, nosso calor íntimo, se podemos trocar entre nós o agasalho,
o aconchego, o alimento, antes de sucumbirmos tísicas de carinho?

 

 

 

Amiga, creio que nosso silêncio não significa um irreversível esquecimento, mas apenas uma interrupção para intensificar nossos desejos e forças. Capto em nosso silêncio a imagem de corpos no jogo da capoeira, que recuam e avançam. Recuam e avançam... Neste exato momento visualizo corpos de mulheres em cena, na roda. Avanço e recuo de corpos. Tudo um jogo a significar a vida. Dos movimentos
da capoeira uma lição, retiro. Recuo e avanço! Recuo e avanço! A cada recuo o corpo se potencializa e volta ganhando espaço. A volta traz sempre um corpo novo – no mesmo corpo anterior – porém potencializado na rapidez, na sagacidade, aprendizagens adquiridas na tática do recuo. Proponho, pois, nossa volta. Voltaremos potencializadas com mais vozes para juntas sustentarmos nossa confraria.
Um chamado está sendo feito. Aguardo a vinda de Ana Cruz, Ana Gonçalves, Cristiane Sobral, Elizandra Sousa, Jenyffer Nascimento, Lívia Natália e Mel Adún.

 

 

 

Amiga, sigamos concebendo as Cartas Negras. Espero viver o conforto de sua chegada. Guarde em você o meu intensificado carinho sempre e sempre.

 

 

 

 

Conceição

Para retomar o projeto Cartas Negras, iniciado nos anos de 1990, depois perdido, Conceição Evaristo escreveu uma carta às antigas amigas escritoras do grupo

e a autoras que surgiram depois dessa época. Ela convoca essas mulheres negras

a romperem o silêncio e retomarem, ou se juntarem, a um novo momento da troca

de missivas entre elas. A adesão foi imediata e massiva e, tanto a convocatória quanto as cartas-resposta podem ser vistas na publicação que acompanha

a Ocupação em homenagem à escritora, e algumas na própria mostra.

 

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SERVIÇO

Ocupação Conceição Evaristo

Coquetel de abertura: 3 de maio (quarta-feira), às 20h

Visitação: 4 de maio (quinta-feira) a 18 de junho (domingo)

Terças-feiras a sextas-feiras, das 9h às 20h

[permanência até as 20h30]

Sábados, domingos e feriados, das 11h às 20h

Piso térreo

 

 

Acesso para pessoas com deficiência

Ar condicionado

 

Estacionamento: Entrada pela Rua Leôncio de Carvalho, 108

Se o visitante carimbar o tíquete na recepção do Itaú Cultural:

3 horas: R$ 7; 4 horas: R$ 9; 5 a 12 horas: R$ 10.

Com manobrista e seguro, gratuito para bicicletas.

Itaú Cultural

Avenida Paulista, 149, Estação Brigadeiro do Metrô

Fones:  +55 11 2168-1776/1777

atendimento@itaucultural.org.br

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Conteúdo Comunicação

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