Em Paralelo

Programação paralela traz dança e performances presenciais e filme na Itaú Cultural Play

Tem programação cênica e audiovisual em sinergia com a Ocupação Milton Santos. A mostra Territórios culturais periféricos começa no primeiro domingo de julho, dentro do projeto Arte na Rua realizado na calçada em frente ao Itaú Cultural. Ela já envolve o público no universo intelectual do homenageado antes mesmo de abrir a Ocupação em 19 de julho. Ainda, no dia da abertura da exposição entra em cartaz na Itaú Cultural Play, plataforma de streaming do IC dedicada ao cinema brasileiro, o documentário Encontro com Milton Santos: o mundo global visto do lado de cá, de Silvio Tendler. Realizado em 2006, o filme se baseia na última entrevista dada pelo geógrafo, na qual ele traça um painel das desigualdades entre o norte rico e o sul pobre e apresenta perspectivas para o futuro da humanidade.

Sempre aos domingos até o fim do mês, a partir das 15h, a mostra Territórios culturais periféricos faz uso da dança como fio condutor para trabalhar o conceito de território idealizado pelo homenageado, para quem este é um espaço sem fronteiras definidas baseado na experiência cultural, onde as subjetividades coletivas lhe dão forma e sentido.

Com curadoria dos produtores Eleilson Leite e Adriano José, do projeto Estéticas das Periferias, a programação mergulha nesta reflexão por meio das práticas culturais de grupos e coletivos das periferias de São Paulo. Com apresentações de 30 minutos, a interação acontece diretamente com o visitante da Paulista sempre aos domingos.

O funk é o primeiro estilo a entrar em cena para essa experiência, com a performance da dançarina e coreógrafa Renata Prado, no dia 2. Idealizadora e articuladora nacional da Frente Nacional de Mulheres no Funk, ativista da organização política Coalizão Negra por Direitos e idealizadora do projeto Academia do Funk, ela propõe uma vivência acerca da cultura do funk, envolvendo o histórico do movimento e a dança em si.

Nos dois domingos seguintes, dias 9 e 16, é a vez do hip-hop e do original funk conduzirem a mostra, tendo à frente Nelson Triunfo, dançarino, coreógrafo, poeta, músico, produtor e educador social, considerado pai do hip-hop. A performance abre com apresentação de diferentes vertentes que compõe cada um desses estilos, seguida por coreografias e solos de Triunfo e seus dançarinos, que convidam o público a participar de um baile black ao vivo, com passos coreografados.

No dia 23, a participação é dos coreógrafos Pieigyh e Jeniffeer Camille, apresentando breaking dance. Integrante da companhia de dança Insaniahnz, a dupla executa repertório de hip-hop music, house music e músicas populares brasileiras, embalando o encontro com o público e conectando espaço, ambiente e atmosfera.

O Projeto Requebrando, conduzido pelas bailarinas Lilian Martins, Munique Costa e Pâmela Csial, fecha a programação paralela de julho, levando funk, dancehall e gumboot dance para a calçada do Itaú Cultural. A proposta é criar um baile com a plateia, no qual ritmos distintos permitem o ato de requebrar, a partir de particularidades de corpos femininos periféricos e suas linguagens negras diaspóricas.

Inspiração mútua

Nos dois últimos domingos, dias 23 e 30, a Mostra Territórios se expande para além da dança, recebendo também uma ação de artes visuais. Nestes dias, em paralelo às performances, a artista visual e designer Bete Nóbrega fará uma ação de live painting, utilizando stencil – técnica de pintura usando moldes vazados – em um painel branco. Nela, a artista irá imprimir a imagem de Milton Santos e frases do intelectual, compartilhando com o público suas reflexões.

Na Itaú Cultural Play

De 19 de junho a 19 de janeiro de 2024, a plataforma exibe Encontro com Milton Santos: o mundo global visto do lado de cá. O fio condutor deste documentário é uma entrevista de Silvio Tendler, gravada quatro meses antes da morte do geógrafo e professor (1926-2001).

Enquanto o mundo se pautava pelo pensamento único da globalização, Santos era uma voz discordante. Um dos maiores pensadores brasileiros da geografia, ele não era necessariamente contra a globalização, mas, sim do modelo vigente deste sistema no mundo. Ele denunciou as contradições contidas no que definiu como “globaritarismo”, um sistema econômico desigual responsável por concentrar a riqueza na mão de poucos. Nesta análise, o professor enxergava e defendia a possibilidade de construção de uma outra realidade, que ele considerava mais justa e mais humana.

Estão no documentário, também, Adirley Queiroz, Ailton Krenak, José Saramago, Edduardo Galeano, Boubaca Boris Diop, Carlos Pronzato, Adetokunbo Borishade, Aline Sasahara, Josep Stiglitz e Celso Amorim.