Não se esqueça de que um webdoc é a fusão de várias e diferentes energias; o design gráfico, o design sonoro, o desenvolvimento flash, o desenvolvimento HTML etc. É realmente um trabalho coletivo, uma mistura de culturas e é isso que faz a sua riqueza.
PB: Depois de ter a ideia e a história prontas, as filmagens em campo são iniciadas. Elas são realizadas por você?
DD: Sim, com uma pequena equipe. Durante as filmagens, envio sinopses, a cada dois dias, aos profissionais restantes. São 10, 15, 20 linhas com uma foto do Philippe Brault (meu comparsa), onde conto o que vimos naquele dia. Os membros da equipe podem então começar a pensar na atmosfera e dar ao designer uma ideia do que está acontecendo.
PB: É como se você escrevesse uma narração
ao vivo...
DD: Exato. Nós filmamos, fazemos a pré-edição e conversamos com os desenvolvedores. Depois disso, faço um esboço do script interativo e retomo as filmagens mais em função do dispositivo. Também são realizadas muitas reuniões com os produtores e as
empresas de difusão, como por exemplo, a ONF e a ARTE, que possuem conhecimentos no assunto.
PB: Como você lida com a "realidade"? De que forma ela se faz presente em seu projeto?
DD: Uma das mais importantes contribuições da web para o documentário é o tempo real. Mas confesso me sentir um pouco solitário, pois tenho a impressão de que muitos produtores e muitos autores estão voltados para uma abordagem que propõe à web uma obra concluída, já terminada. Pessoalmente, eu adoro ver o trabalho escapando do seu autor, escapando de uma forma mais ou menos controlada. Por que fazemos documentário? Por que temos uma visão das coisas e queremos colocar a nossa pitada de sal, para que o mundo mude, não é? E compartilhá-lo.
Tomemos o aspecto do "tempo real", ou seja: estou assistindo a algo e, enquanto assisto, posso editá-lo, mudar a percepção de quem verá o projeto depois. O webdocumentário está, finalmente, muito perto do que era conhecido no anos de 1960 e 1970 como documentário engajado. Na verdade, a web é, talvez, o lugar perfeito para o ativismo. O interessante é que ela dá ao espectador um papel muito importante. Eu amo
o cinema e, nesses casos, prefiro ver um filme, em vez de uma falsa promessa de interatividade.
PB: Qual o papel do autor quando termina a filmagem e começa o processo de colocar o vídeo na internet?
DD: Um webdoc é um show de rock! Você ensaia no seu porão com pedaços de barbante e um dia chega o concerto. No início, você tem medo, começam a chegar os internautas, as atualizações e o projeto é divulgado nas redes sociais. Eu adoro esse momento! Um ou dois anos mais tarde, você já está fazendo um festival e novas pessoas estão conhecendo o projeto. Eu continuo, por exemplo, como moderador nos fóruns do projeto Prison Valley, lançado em 2010. Um dos meus projetos futuros é um jogo documentário, Fort McMoney. Pretendo me transformar no mestre desse jogo, algo que se tornou praticamente uma profissão. Na verdade, os webdocs são obras vivas, vivendo com os espectadores.
PB: Quando essa função de mestre do jogo termina?
DD: No Prison Valley, por exemplo, só com a minha morte! Mas depende da proposta do projeto e isso inclui uma questão importante: a conservação deles.>>