Curatorial

Reflexão sobre o panorama político e artístico passado e presente

Ensaios para o Museu das Origens é uma proposição feita em diálogo com muitas pessoas, coletivos, movimentos e instituições; é um gesto, composto de outros gestos, que mobiliza o debate sobre as políticas de memória e sobre os modos como preservamos e difundimos as matrizes constitutivas do Brasil. Feitos em diferentes geografias, tempos e condições, com formatos e estratégias diversos, esses gestos revelam tanto as contradições deste país – onde o destino de quase tudo é a entropia e o fogo – quanto uma força instituinte proporcional à riqueza de sua cultura.

O disparador dessa iniciativa é a proposta de fundação do Museu das Origens feita por Mario Pedrosa – uma das vozes mais engajadas na transformação da arte e da sociedade brasileiras ao longo do século XX. Desenvolvida durante as mobilizações pela reconstrução do Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro após um incêndio em 1978, a proposta envolvia a reunião de cinco museus: o Museu de Arte Moderna, o Museu do Índio, o Museu de Imagens do Inconsciente – que já existiam, mas enfrentavam sérios problemas –, o Museu do Negro e o Museu de Arte Popular – que deveriam ser criados.

Naquela época, em meio às tentativas de redemocratização do Brasil após 20 anos de ditadura, a ideia de Pedrosa não foi sequer discutida, ainda que colocasse em questão a fragilidade das políticas públicas para os museus, a participação do campo cultural nos processos políticos e, ainda, as narrativas instituídas acerca das origens do país. 
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Hoje, Ensaios para o Museu das Origens apresenta-se como uma reflexão sobre o que estava em jogo ali e, especialmente, sobre o que segue em jogo no atual panorama político e cultural. O tom de cada núcleo desta mostra é introduzido por uma roda de objetos e histórias, ao lado de outros projetos de Pedrosa que nos ajudam a relacionar e friccionar os cinco eixos de sua proposta. Às rodas, seguem-se núcleos documentais e conjuntos expressivos relativos aos lugares de memória e às instituições dos quais nos aproximamos, exemplos importantes de uma diversidade de práticas revolucionárias que não se esgota em uma única exposição. Artistas também foram convidados para elaborar contextos cuja complexidade ultrapassa a linguagem discursiva, ou para alcançar questões hoje incontornáveis. 
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Ao percorrer cada sala, mergulha-se em aspectos concatenados da política da memória no país e percebe-se que, se o apagamento e a violência sempre foram as regras do poder, lembrar é uma forma de lutar e de imaginar e instituir outros futuros.

Izabela Pucu e Paulo Miyada
Curadores
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