REDE

Rede de memórias tecida entre pessoas, coletivos e instituições

São muitas as iniciativas encontradas pelos curadores de Ensaios para o Museu das Origens em todo o país. Cada uma a seu modo e com sua condição, com formatos e estratégias diversos, mais conhecida ou menos, de grande, médio ou pequeno porte, vai desbravando caminhos buscando cuidar e preservar a memória cultural brasileira. Pelo menos 20 delas, estão reunidas na exposição. Confira aqui.

PISO 1
Acervo da Laje
“A arte tem um poder de comunicação muito efetivo. Estamos criando novos símbolos e significados sobre a periferia e isso inclui uma forma de ir contra a deterioração da imagem periférica que vem sendo feita nas últimas décadas”, diz José Eduardo Ferreira Santos, que fundou com Vilma Santos o Acervo da Laje, no bairro de São João do Cabrito, na periferia ferroviária de Salvador (BA). Desde 2010, essa casa-museu-escola tem construído um acervo que abrange milhares de obras realizadas pela população local, hemeroteca sobre a história do território, bibliotecas, artefatos históricos e conchas.

Com exposições, visitas guiadas, oficinas e conversas realizadas dentro e fora de sua sede, o Acervo da Laje semeia espaços de convivialidade e a transformação de regimes de visibilidade do seu entorno e das comunidades e dos artistas que o habitam. Sua coleção é constituída a partir de intensa pesquisa, da compra de trabalhos de artistas e da escrita de suas biografias, as quais são costumeiramente borradas pelo uso rebaixado das ideias de artesania e de arte popular, que os relega ao anonimato. Tal trabalho resulta na experimentação contínua de formas museológicas e expográficas.

A concepção deste conjunto foi liderada pela equipe do Acervo da Laje.

Bloco Carnavalesco Loucura Suburbana
A desconstrução do modelo de asilo em instituições psiquiátricas é resultado de décadas de debates e lutas antimanicomiais. A Colônia de Alienadas de Engenho de Dentro, hoje nomeada Instituto Municipal de Assistência à Saúde Nise da Silveira (IMASNS), é o mais antigo espaço construído para abrigar um hospício do Brasil, tendo ocupado um lugar central nos embates e nas transformações das políticas sobre saúde mental. Em 2001, em meio a uma etapa decisiva desse processo, foi criado o Bloco Carnavalesco Loucura Suburbana, que une funcionários e usuários da rede de saúde mental, ao lado de seus familiares, na preparação e na celebração do Carnaval de rua.

Se a luta antimanicomial reivindica um modelo de cuidado que tenha a liberdade como elemento terapêutico, romper muros e levar a loucura para a rua simboliza a reintegração dos usuários à comunidade, e da população aos dispositivos de cuidado. Em 2010, o bloco se tornou o primeiro Ponto de Cultura em saúde mental da cidade do Rio de Janeiro, oferecendo atividades culturais gratuitas e abertas ao público que se apropriam do samba e do Carnaval, estimulando a ocupação do espaço do IMASNS com projetos culturais e com trocas entre subjetividades diversas.

A concepção deste conjunto foi possível graças à colaboração da coordenação, da equipe e dos participantes do Bloco Carnavalesco Loucura Suburbana, junto ao apoio da direção do Instituto Municipal de Assistência à Saúde Nise da Silveira.

Museu de Arte Moderna da Bahia e Museu de Arte da Universidade Federal do Ceará
O trabalho de Lina Bo Bardi à frente do Museu de Arte Moderna da Bahia (MAM-BA) é reconhecido por colocar em crise as hierarquias que separam as manifestações da cultura popular da chamada arte moderna, assim como por sua contribuição nos campos do desenho industrial e da arquitetura. Em estreito diálogo com Martim Gonçalves e João Filgueiras Lima, a arquiteta foi responsável pela restauração do Solar do Unhão, onde implantou, além do MAM-BA, o Museu de Arte Popular (MAP), edificação que tem como ícone a sua escada construída com um sistema de encaixes de carros de boi.

As propostas de Lina Bo Bardi se alinham ao trabalho de artistas, intelectuais, gestores e críticos nordestinos, e, nesse sentido, podem ser lidas como parte de um movimento mais amplo de questionamento dos estereótipos do Nordeste e de valorização do patrimônio cultural popular, associado a políticas de Estado que visavam ao desenvolvimento social e econômico da região a partir dos anos 1950. Como demonstra um diagrama traçado pela própria Lina, Salvador, Fortaleza e Recife eram importantes polos de pensamento e ação sobre outra visão de Nordeste, sendo Lívio Xavier e Francisco Brennand seus principais interlocutores nessas cidades.

A concepção deste conjunto foi possível graças à interlocução com as equipes técnicas, as curadorias e as direções do Museu de Arte Moderna da Bahia, do Museu de Arte da UFC  e do Instituto Bardi, além do diálogo com os pesquisadores Jacqueline Medeiros e Wesl​l​ey Pontes.

Museu do Marajó
No encontro do Oceano Atlântico com o Rio Amazonas, formou-se Marajó, o maior arquipélago fluviomarinho do mundo. Marcado pela alternância de drásticos períodos de cheias com temporadas de calor inclemente, Marajó oferecia desafios à ocupação humana dos povos originários. Em razão da brutalidade da invasão colonial, demorou muito para que se consolidasse o entendimento de que as cerâmicas encontradas no arquipélago, assim como os tesos (aterros artificiais construídos em terrenos alagadiços) realizados por indígenas especialmente entre os anos 400 e 1300, eram reminiscências de culturas complexas e duradouras equipadas com tecnologias de ecologia antrópica adequadas à vida naquele território.

Não haveria hoje um acervo significativo para que se conheça essa ancestralidade não fosse o Museu do Marajó, em Cachoeira do Arari – criado por meio da colaboração do padre italiano Giovanni Gallo com a comunidade local.

O material reunido aqui compartilha algo da singularidade desse museu –expondo as dificuldades enfrentadas na sua manutenção em um território de esparsos equipamentos públicos, a diversidade de seu acervo de arqueologia e cultura popular e a originalidade da museologia interativa que experimenta.


PISO -1
Discoteca Oneyda Alvarenga
Nomeado diretor do Departamento de Cultura de São Paulo em 1935, Mário de Andrade propôs um projeto pioneiro no encontro entre patrimônio cultural imaterial e pesquisas sociológicas, históricas e etnográficas. Ele previa a criação de uma rádio-escola e de uma discoteca pública, além da realização de viagens periódicas para o registro de manifestações populares que estariam em risco de desaparecer – abrangendo de festas populares a cantos de trabalho. Em razão de mudanças políticas, foi feita apenas a primeira dessas expedições, a Missão de Pesquisas Folclóricas de 1938.

A ação produziu abundantes materiais fonográficos, fílmicos, fotográficos e manuscritos – legado que foi preservado principalmente por Oneyda Alvarenga, ex-aluna de Mário de Andrade responsável por dirigir a Discoteca Municipal de sua fundação até 1968. Ela tornou-se uma referência nos estudos musicais no Brasil por ter promovido a organização, a catalogação, o estudo e a difusão dos materiais coletados. Para ela, o objetivo da Discoteca Municipal é “não só o melhor conhecimento do nosso povo através dos seus costumes e tradições, como fornecer aos nossos compositores uma fonte que lhes permita, pelo estudo da nossa música popular, orientar e fixar sua arte dentro do contexto nacional”.

A concepção deste conjunto foi possível graças à colaboração da direção e equipe técnica do Acervo Histórico da Discoteca (Centro Cultural São Paulo).

Coleção Nosso sagrado – Museu da República
A história da coleção Nosso sagrado revela as atrocidades cometidas pelo Estado brasileiro contra as manifestações religiosas de matrizes africanas. Integrada por centenas de objetos apreendidos pela polícia em casas e terreiros de umbanda e candomblé entre 1889 e 1945, em uma prática carregada de racismo institucional, a coleção estava indevidamente alocada no acervo do Museu da Polícia do Rio de Janeiro, e se tornou amplamente conhecida com a mobilização Liberte Nosso Sagrado.

Em 2021, após muitos debates e enfrentamentos, o precioso acervo foi transferido para o Museu da República, onde é gerido por um comitê integrado por técnicos em museologia e documentação e por lideranças religiosas, sendo Mãe Meninazinha de Oxum uma presença emblemática desse movimento. A ida do acervo para o Museu da República representa uma importante vitória dos movimentos negros que, desde a década de 1980, reivindicavam outro destino para essa coleção, se inserindo criticamente nas narrativas oficiais sobre a República brasileira. O processo serve ainda de paradigma para se discutirem o destino de outras coleções semelhantes existentes no país e as estratégias do campo cultural contra o racismo e a intolerância religiosa.

Museu do Homem do Nordeste
O Museu do Homem do Nordeste (Muhne) é uma ideia construída em múltiplas temporalidades. Em um nível, remete ao compromisso de Gilberto Freyre, a partir de meados da década de 1920, de formar um campo de pesquisa e de debate continuado em torno de um regionalismo situado nos hábitos e nas relações sociais do Nordeste, desaguando em uma rede de iniciativas que almejavam a criação de um museu como instrumento de pensamento público. Em outro nível, resulta da abertura, em 1949, do Instituto Joaquim Nabuco de Pesquisas Sociais, atual Fundação Joaquim Nabuco (Fundaj), órgão federal que promove pesquisas multidisciplinares sobre o Brasil a partir das condições de vida no Nordeste, e que instituiu o Museu de Antropologia, em 1965.

A criação do Muhne deu-se por ocasião da fusão, em 1979, dos acervos do Museu de Antropologia, do Museu de Arte Popular de Pernambuco e do Museu do Açúcar, tendo como sede a edificação construída para esta última instituição. O conjunto de documentos expostos aqui busca refletir essa temporalidade complexa, que faz com que o Muhne possua características e vocações multifacetadas que seguem em transformação.

A concepção deste conjunto foi possível graças à colaboração da direção e da equipe técnica do Museu do Homem do Nordeste (FUNDAJ), junto à interlocução com Gleyce Kelly Heitor.

Museu Afro Brasil Emanoel Araújo
Criado em 2004 como centro de memória e museu de arte, o Museu Afro Brasil tem no cerne de suas narrativas as expressões do povo negro diante do legado das diásporas africanas, em uma perspectiva brasileira. Sua fundação foi um desdobramento de mais de duas décadas de atuação do artista, curador e gestor cultural Emanoel Araújo, cujo projeto intelectual, desenvolvido em exposições, publicações e na construção de uma coleção, visava elaborar uma história do negro a partir do seu próprio olhar. Fortalecido por sua experiência como gestor, Araújo canalizou o impacto da Lei Federal nº 10.639/03 – que incluiu a história da África e da cultura afro-brasileira no currículo oficial das redes de ensino pública e particular – para alavancar um museu de grande escala, com ampla coleção e aberto a públicos numerosos.

A exposição permanente do museu constitui um caso único na história das exposições, uma síntese aberta e polifônica trabalhada por Araújo até o seu falecimento, em 2022, na qual os elementos transformam as leituras uns dos outros em uma montagem de justaposições. Esta apresentação do Museu Afro Brasil concentra-se em uma imersão nesse experimento, contextualizada por alguns dos documentos da trajetória que precede e embasa sua tessitura.

A concepção deste conjunto foi possível graças à colaboração da direção e equipe técnica do Museu Afro Brasil Emanoel Araújo.


PISO -2
Casa do Povo
Fundada em 1946, a Casa do Povo nasceu como um monumento vivo, um espaço de memória e ação de múltiplas coletividades. Sua criação foi impulsionada por uma parcela da comunidade judaica que se mobilizou após a Segunda Guerra Mundial e viabilizou a construção de um edifício multifuncional que, ao longo das décadas, acolheu desde o Ginásio Israelita Brasileiro Scholem Aleichem até o projeto Boxe Autônomo, o jornal Nossa Voz e o Parquinho Gráfico, passando por grupos de leitura, coletivos de performance para pessoas em situação de vulnerabilidade social e inúmeras outras iniciativas e associações.

Dentro dessa diversidade, um elemento constante na história da Casa do Povo tem sido o canto coletivo, que ressoa a partir de corais dedicados ao repertório em ídiche. Houve o Coral Scheiffer e há o Coral Tradição, expressando que o ato de cantar é a melhor forma de preservar memórias e de manter as pessoas unidas.

Este conjunto documental traz parte do arquivo da Casa do Povo em diálogo com alguns acervos próximos. A seleção é atravessada pela sonoridade e pelo canto, enquanto a obra em processo Ledovador, de Yael Bartana, promove o encontro do Coral Tradição com o Bloco Afro Ilú Obá de Min, duas iniciativas coletivas que brotam da música de povos em diáspora.

A concepção deste conjunto foi possível graças à colaboração da direção e da equipe da Casa do Povo, que contribuíram também com a edição e a apresentação documental.

Memorial da Resistência de São Paulo 
Inaugurado em 2009, o Memorial da Resistência é resultado do processo de musealização do edifício que sediou, entre 1940 e 1983, o Departamento Estadual de Ordem Política e Social de São Paulo (Deops-SP). Projetado pelo arquiteto Ramos de Azevedo originalmente para abrigar escritórios e armazéns da Companhia Estrada de Ferro Sorocabana, e depois adaptado para receber o órgão policial, o conjunto foi tombado como bem cultural pelo Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico do Estado de São Paulo (Condephaat) em 1999.

O espaço prisional pelo qual passaram centenas de presos políticos durante o Estado Novo (1937-1945) e a ditadura militar (1964-1985) comprovadamente sediou violências políticas dos regimes autoritários e recorrentes violações dos direitos humanos.

Após uma extensa reforma, que descaracterizou seu espaço carcerário, e discussões protagonizadas pelo Fórum Permanente de Ex-Presos e Perseguidos Políticos do Estado de São Paulo e pelo poder público, o Memorial, museu da Secretaria de Cultura e Economia Criativa do Estado, ganhou nova vocação. Estabeleceram-se diretrizes de preservação das memórias da resistência e da repressão, tendo como cerne o Programa Coleta Regular de Testemunhos, iniciado em 2008. Hoje, o espaço desdobra sua missão ao refletir sobre seu legado e sobre a urgência de debates públicos sobre os direitos de diversos grupos sociais.

Rede Indígena de Memória e Museologia Social do Brasil - Núcleo Ceará
A formação contemporânea da área dos museus indígenas no Brasil tem na experiência do Memorial Museu Indígena Kanindé (Sítio Fernandes, Aratuba, Ceará), criado em 1995 pelo cacique Sotero, o disparador de trocas e interações sociais que resultaram na Rede de Museus Indígenas do Ceará e, em 2014, na Rede Indígena de Memória e Museologia Social, com abrangência nacional. Os objetos, as imagens e os documentos deste núcleo foram reunidos a partir da colaboração com artistas, museólogos, professores e gestores indígenas de três etnias: Kanindé, Jenipapo-Kanindé e Pitaguary. Trata-se, portanto, de um pequeno conjunto resultante de práticas de memória desses grupos, que dá a ver um movimento maior integrado por outras comunidades (só no Ceará são 16), com suas especificidades étnicas, culturais e sociais.

A construção de museus nas aldeias indígenas vem servindo aos diferentes interesses e necessidades de suas comunidades, desde a luta pela demarcação de terras até os processos ligados à educação e ao autorreconhecimento de populações dadas como extintas. Essas experiências de apropriação da ferramenta museu ajudam a ressignificar as noções de patrimônio e cultura de acordo com as dinâmicas cosmológicas e as mobilizações dos povos indígenas.

A concepção deste conjunto foi possível graças à colaboração dos povos Kanindé, Pitaguary e Jenipapo-Kanindé, representados por Antônia Kanindé, Daniela Jenipapo-Kanindé e Francilene Pitaguary, em diálogo com os pesquisadores Alex Hermes e João Paulo Vieira e com a equipe organizadora do IV fórum de museus indígenas do Ceará.

Museus mineiros
Um olhar em conjunto para os museus mineiros tornou-se possível e urgente a partir do processo de autocrítica disparado pelo fórum Museus mineiros no divã, de novembro de 2022, acompanhado pela curadoria desta exposição a convite do Museu dos Quilombos e Favelas Urbanos (Muquifu). Com essa perspectiva, o patrimônio cultural dos museus mineiros apresenta-se aqui a partir de uma dobra crítica que enfoca lateralmente o Barroco e o Rococó do estado, cujas criações foram tombadas de forma pioneira pelo Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Sphan, atual Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, Iphan) e também pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco).

O que está em primeiro plano neste núcleo – que se desdobra a partir do projeto museológico e comunitário do Muquifu – são a herança cultural e as tecnologias dos povos africanos trazidos para a região de Minas Gerais, que resistem em nossos dias como outrora, e que permitiram a extração das riquezas que sustentaram a construção de igrejas e de outros edifícios de destaque na paisagem de cidades como Ouro Preto, Mariana e Tiradentes. Também estão presentes neste núcleo os movimentos pela memória das populações negras de Belo Horizonte, soterradas pelo planejamento da nova capital do estado.

A concepção deste conjunto foi possível graças à interlocução com o coletivo Muquifu, em colaboração com Du Veloso, Sidnéa Francisca dos Santos e a direção do Museu da Inconfidência.

Cais do Valongo
O Cais do Valongo é um lugar de memória da dor. O Cais do Valongo é um lugar de resistência. O Cais do Valongo é um lugar de invenção. O complexo conhecido como Pequena África, que inclui a Pedra do Sal e o Cemitério dos Pretos Novos, havia sido soterrado por obras urbanísticas anteriores, e a extensão de sua carga arqueológica veio à tona somente em 2011, durante a reforma de uma residência, que hoje sedia o Instituto Pretos Novos, responsável por um importante movimento pedagógico e de valorização da memória da região.

Considerado o maior porto de entrada de africanos escravizados do planeta, o complexo foi tombado como patrimônio mundial da humanidade em 2018 pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), que o reconheceu como um lugar de memória da escravidão, mas também da participação e da contribuição dos africanos e de seus descendentes para o desenvolvimento social, econômico e cultural do Brasil. De fato, a história da Pequena África é marcada por uma série de revoltas do povo negro, pela formação da primeira favela do país – hoje conhecida como Providência – e pela riqueza artística e cultural daqueles que lá viveram no passado, mantida viva por meio da resistência e da vivacidade de seus descendentes.

A concepção deste conjunto foi possível graças à colaboração da equipe do Instituto Pretos Novos.

Museu Paraense Emílio Goeldi
As origens do Museu Paraense Emílio Goeldi (MPEG) remontam a 1866, quando lideranças de Belém do Pará posicionavam a cidade como uma das mais importantes na modernização do Império. A vocação do museu, que é o segundo de história natural no Brasil, foi definida com a contratação do zoólogo suíço Emílio Goeldi, no início da República. Goeldi consolidou dois argumentos museológicos: o seu universalismo científico deveria se concentrar na Amazônia, fazendo dela o seu mundo; e deveria ser um espaço de mediação, agregando múltiplos e numerosos públicos. O resultado dessas premissas foi a criação de um parque zoobotânico idiossincrático, repleto de animais e de plantas amazônicas – e que, já em 1907, atraía 120 mil visitantes por ano.

Articulam-se aqui documentos da história do museu no princípio do século XX, com amostras do trabalho desenvolvido pelo botânico suíço Jacques Huber, contratado pela importância da extração de látex de seringueiras amazônicas para a economia local. Imerso na floresta, Huber aproveitou suas várias viagens e as experiências desenvolvidas no horto do museu para ampliar o conhecimento sobre a flora e os ambientes amazônicos.

A concepção deste conjunto foi possível graças à colaboração da direção e da equipe técnica da Museu Paraense Emilio Goeldi, junto à interlocução do Arquivo Guilherme de La Penha/MPEG e do Herbário João Murça Pires/MPEG.

Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro
O Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro (MAM Rio) foi criado no fim da década de 1940, quando também surgiam outras instituições de arte moderna no país. Ao longo da década seguinte, dentro de um horizonte político informado pela ideia de progresso e um ambiente cultural marcado pela construção de ícones de arquitetura e urbanismo modernos, essas novas instituições de arte se colocaram como símbolos da modernização do país, participando de debates em torno de conceitos, hierarquias e categorias que orientaram os processos de memória e de legitimação da produção cultural brasileira.

Ao longo dos anos 1960 e 1970, o MAM Rio foi um espaço de formação, trabalho e convívio fundamental para gerações de artistas e críticos que, com diferentes estratégias e abordagens, produziram mudanças nas diretrizes e nas formas de fazer o museu. O espaço abrigou ainda acontecimentos marcantes ligados à resistência cultural contra a ditadura militar, que colocavam na ordem do dia a necessária transformação do sistema de arte, a participação da população em geral no campo cultural, e o papel dos museus, do artista e do crítico nos processos sociais mais amplos. Esses debates encontraram um momento culminante durante a mobilização que se seguiu ao incêndio no museu, em 1978.

A concepção deste conjunto foi possível graças à colaboração da direção e da equipe técnica do Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro.

Museu de Arte Osório Cesar
O Asilo Colônia da Sucursal do Juquery, parte do Hospício de Alienados de São Paulo, foi concebido e dirigido pelo médico psiquiatra Francisco Franco da Rocha, que se inspirou nas colônias agrícolas de reabilitação francesas. Projetado por Ramos de Azevedo, o hospital foi construído em 1894, perto do Rio Juquery – e longe da capital paulista. A presença da arte na instituição decorreu da entrada, a partir de 1923, do médico Osório Cesar, que fundou a Escola Livre de Artes Plásticas do Juquery, promovendo o trabalho artístico entre os internos. Em 1985, o Museu Osório Cesar (Maoc) foi criado a partir do acervo da escola, abrigando atividades de arteterapia até o seu fechamento, em 2001.

Em decorrência da Reforma Psiquiátrica, o complexo hospitalar foi desativado e transformado em um parque municipal, segundo um novo Plano Diretor que também previu a reabertura do Maoc, dedicado às produções artísticas dos internos do Juquery. Além de valorizar e preservar essas obras, reconhecendo sua importância artística em uma abordagem inclusiva, o museu desafia estigmas cristalizados ao longo de mais de um século de funcionamento desse espaço como um território de exclusão social.

A concepção deste conjunto foi possível graças à colaboração da equipe técnica do Museu de Arte Osório Cesar e do arquivo do Hospital do Juquery.

Museu Arqueológico de Sambaqui de Joinville
Ao longo do litoral sul do Brasil, encontram-se construções artificiais feitas entre 7 mil e mil anos atrás: são os sambaquis, montes de conchas de moluscos repletos de vestígios de atividades cotidianas e de enterramento dos sambaquieiros. Junto com os zoólitos, peças esculpidas em rocha que evocam pássaros, peixes e outros animais, os sambaquis são pontos de contato com a história complexa desse território antes da invasão colonial. A definição tardia de leis de proteção de sítios arqueológicos, no entanto, fez com que a sua preservação dependesse de pesquisadores voluntários que atuaram em meados do século XX.

Entre esses pesquisadores estava Guilherme Tiburtius, que por décadas atuou no resgate e no estudo dos vestígios dos sambaquieiros, confrontando-se com a predação generalizada de sítios para a produção de cal e adubo, com a ocupação de terras pela construção civil e com o descaso de autoridades e de parte do circuito acadêmico. A venda do acervo coletado por Tiburtius ao município de Joinville (SC) desencadeou a criação, em 1969, do Museu Arqueológico de Sambaqui de Joinville, cuja missão abrange a preservação in situ dos sambaquis, a salvaguarda e a pesquisa desses sítios e do acervo no museu, e a educação da população acerca do patrimônio arqueológico que subsiste em seu território.

A concepção deste conjunto foi possível graças à colaboração da direção e da equipe técnica do Museu Arqueológico de Sambaqui de Joinville.

Museu de Imagens do Inconsciente
O Museu de Imagens do Inconsciente foi fundado em 1952, no então Centro Psiquiátrico Nacional, como consequência do trabalho da médica psiquiatra Nise da Silveira, iniciado com a criação da Seção de Terapêutica Ocupacional, em 1946, na instituição. Na época, eram cerca de 1.500 internos, em sua maioria esquizofrênicos crônicos, e a seção criada por Nise oferecia diversas atividades em oficinas e ateliês, com a colaboração de servidores e artistas, como Almir Mavignier, responsável pela implantação do ateliê de pintura.

O museu foi fundado com a finalidade de preservar e exibir os trabalhos produzidos nesses processos de caráter terapêutico, científico e artístico-cultural. Por meio disso e de exposições realizadas dentro e fora dos muros do hospital, Nise da Silveira e seus colaboradores (incluindo Mario Pedrosa) conseguiram levar as discussões do campo da saúde mental para o quadro maior da sociedade. Apresenta-se aqui uma breve amostra dessa história, com destaque para os processos que fortaleceram a estrutura museal do espaço no fim da década de 1970. Há oportunidade também para observar de perto a profunda incursão do artista Fernando Diniz na linguagem do cinema e da animação.

A concepção deste conjunto foi possível graças à colaboração da direção e da equipe técnica do Museu de Imagens do Inconsciente, assim como ao apoio da direção do Instituto Municipal de Assistência à Saúde Nise da Silveira.

Museu do Índio
Concebido por Darcy Ribeiro em 1953, no âmbito do Serviço de Proteção aos Índios (SPI), o Museu do Índio está ligado atualmente à Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai) e tem sob sua guarda milhares de documentos, peças etnográficas e publicações relativos à maioria das sociedades indígenas contemporâneas. Ao longo de sua trajetória, o museu enfrentou adversidades que culminaram no seu fechamento ao público na última década.

Como argumentou o museólogo e pesquisador Mario Chagas, ainda que a imaginação museal de Ribeiro estivesse situada no paradigma clássico da museologia, é preciso reconhecer que o Museu do Índio tem assumido orientações políticas claras no apoio às lutas dos povos indígenas por direitos, e, nesse sentido, volta-se na direção de novas práticas, como a criação de museus pelos próprios povos indígenas. Além de mostrar a riqueza de algumas das coleções do acervo, o conjunto apresentado aqui busca sublinhar tanto o suporte dado pelo museu aos registros do patrimônio material e imaterial de povos indígenas quanto os seus processos de requalificação de acervos e de debate a partir da atuação de indígenas em movimentos de reapropriação de práticas culturais ameaçadas pelas diversas violências coloniais e contemporâneas.

A concepção deste conjunto foi possível graças à colaboração da direção e da equipe técnica do Museu do Índio e à interlocução com Dominique Tilkin Gallois e com a Associação Wajãpi Terra, Ambiente e Cultura.

Parque Nacional Serra da Capivara
O Parque Nacional Serra da Capivara, no Piauí, estava submerso até 220 milhões de anos atrás, quando um movimento tectônico elevou o fundo do mar e deixou à vista imensos cânions de rocha sedimentar. Na Era do Gelo, a região nunca congelou, tornando-se uma rica floresta tropical úmida, até que o aumento das temperaturas e a queda da umidade fizeram surgir a caatinga, com sua biodiversidade e resiliência.

Muito antes da colonização do Brasil, ali viveram gerações que deixaram como legado a maior concentração de pinturas rupestres do mundo: milhares de imagens com forte dinamismo e poses expressivas, com cenas de caça, sexo e culto, entre tantas outras. As pinturas só começaram a ser estudadas nos anos 1960, quando a arqueóloga Niède Guidon as encontrou submetidas às intempéries e à ação humana.
A concepção deste conjunto foi possível graças à colaboração da direção e da equipe técnica da FUMDHAM – Fundação do Museu do Homem Americano, junto ao apoio da direção do Parque Nacional Serra da Capivara e do Instituto Olho D’Água.

Os estudos e esforços de Niède resultaram em uma missão científica franco-brasileira e na criação do Parque Nacional e da Fundação do Museu do Homem Americano (Fumdham), para implementar iniciativas relacionadas a conservação e educação patrimonial, segurança, pesquisa arqueológica e ação socioeducativa – que as políticas públicas não realizavam, mesmo após o reconhecimento da relevância do patrimônio.

A concepção deste conjunto foi possível graças à colaboração da direção e da equipe técnica da FUMDHAM – Fundação do Museu do Homem Americano, junto ao apoio da direção do Parque Nacional Serra da Capivara e do Instituto Olho D’Água.

Home

Abertura:
6 de setembro de 2023, às 20h, no Itaú Cultural.

9 de setembro de 2023, das 11h às 15h, no Instituto Tomie Ohtake.

Em ambas, permanece em cartaz até 28 de janeiro de 2024

Curadoria geral:
Izabela Pucu e Paulo Miyada

Curadoria adjunta:
Ana Roman

Curadores Convidados:
Daiara Tukano e Thiago de Paula Souza


No Itaú Cultural
De 6 de setembro de 2023 a 28 de janeiro de 2024
Avenida Paulista, 149 – próximo à estação Brigadeiro do metrô

Visitação:
De terça-feira a sábado, das 11h às 20h;
Domingos e feriados, das 11h às 19h.
Entrada gratuita
Acesso para pessoas com deficiência física

Estacionamento:
Entrada pela Rua Leôncio de Carvalho, 108. Com manobrista e seguro, gratuito para bicicletas.

Mais informações:
Pelo telefone (11)2168-1777
Whatsapp: (11)96383-1663
E-mail: atendimento@itaucultural.org.br



No Instituto Tomie Ohtake
De 9 de setembro de 2023, das 11h às 15h, até 28 de janeiro de 2024.
De terça a domingo das 11h às 19h.
Entrada gratuita

Av. Faria Lima, 201
Entrada pela Rua Coropés,88/Pinheiros - SP
Metrô mais próximo: Estação Faria Lima/Linha 4 – Amarela
Fone: (11)2245-1900

Assessoria de imprensa

Pelo Itaú Cultural:
Conteúdo Comunicação


Cristina R. Durán
(11)98860-9188
cristina.duran@conteudonet.com

Larissa Corrêa
(11)98139-9786 / 99722-1137
larissa.correa@terceiros.itaucultural.org.br

Mariana Zoboli
(11)98971-0773
mariana.zoboli@conteudonet.com

Douglas Ramalho
(61)8341-2033
douglas.ramalho@conteudonet.com

Roberta Montanari
(11)99967-3292
roberta.montanari@conteudonet.com

Programa Rumos Itaú Cultural:
Carina Bordalo
(11)98211-6595
carina.bordalo@terceiros.itaucultural.com.br
     



Pelo Instituto Tomie Ohtake:
Pool de Comunicação


Marcy Junqueira
(11)99980-6241
marcy@pooldecomunicacao.com.br

Martim Pelisson
(11)99619-7744
martim@pooldecomunicacao.com.br

2023 - DESENVOLVIDO PELA CONTEÚDO COMUNICAÇÃO