Em todas as conversas sobre Dona Onete para a construção deste material que você está lendo – junto com a exposição presente na sede do Itaú Cultural (IC) e no site itaucultural.org.br/ocupacao –, alguns pontos sempre surgiram de forma muito clara: a poesia e o canto sobre o Pará, sua forte presença que evoca ancestralidade e seu carisma capaz de conquistar artistas e público de forma imediata e, praticamente, unânime. É o que reforçam também a cantora Fafá de Belém, o cantor e guitarrista Felipe Cordeiro e o baterista Nil Almeida, o Vovô.
Consagrada como a Rainha do Carimbó Chamegado, Dona Onete é personagem fundamental no Pará. Sua presença e sua obra são importantes tanto internamente – para a consolidação de uma cena musical em Belém – quanto externamente – para a difusão da cultura paraense. Hoje com uma bagagem musical intensa – são três discos e um DVD lançados e turnê pelo Brasil e pelo mundo –, vale dizer que a música sempre fez parte de sua trajetória – mesmo quando não era artista. Dona Onete lutou pela sua música, pelo sonho de viver da música. Nas beiras dos rios, nas salas de aula, nas noites com grupos de carimbó, essa arte sempre esteve presente de forma natural.
Nos depoimentos a seguir, conhecemos um pouco mais sobre a cantora Dona Onete e o seu carimbó chamegado, por meio de histórias de quem já dividiu tantos palcos e bastidores com ela.
Fafá de Belém: “Dona Onete é a música do Pará”
“Carimbó chamegado é essa forma como ela canta. Uma mulher de 83 anos que tem uma sensualidade extrema, porque nunca se adequou, nunca quis entender o que a caretice disse para ela. O que diz para nós, mulheres. Não, Dona Onete segue. Segue com seu charme, sua sensualidade e esse jeito chamegoso que só ela tem, que é muito paraense”, começa dizendo Fafá de Belém.
A cantora lembra quando conheceu Dona Onete, no festival Terruá Pará – projeto da Secretaria de Cultura, que tinha um olhar transversal sobre a música do estado. Em meio a tantos talentos, era ela que mais se destacava naquele palco. “Ela é uma doce força da natureza, carrega uma ancestralidade sem bandeiras forçadas, sem querer ser nada. Dona Onete é”, sintetiza.
A empatia foi imediata e, com o tempo, ficaram amigas. Fafá recorda um encontro marcante para ambas em 2021 – numa fase de abertura da pandemia de covid-19 –, no qual ela e Dona Onete foram convidadas para encerrar uma feira de negócios performando para uma plateia de gente de todo o mundo com olhos voltados para a Amazônia. ”Tive a honra de cantar junto com ela, acompanhadas por um grupo de percussionistas de Belém, o Trio Manari, e sem nenhum instrumento de harmonia. Foi lindo, desafiador, poderoso. No final, a Onete, maravilhosa, se levanta e a gente termina meio que dançando um carimbó improvisado. Uma extrema felicidade de falar mais uma vez: nós somos do Pará, somos Amazônia, somos mulheres que nascemos para ser desafiadas e ganhar todos os desafios.”
Felipe Cordeiro: “Ela representa um ápice da música paraense”
“Lembro que, quando a vi – e até hoje é a mesma sensação –, a impressão que tive é de uma parada meio louca. Quando vejo outros artistas ao vivo, eu me conecto com a música, o discurso, a sonoridade. Dona Onete me seduz por tudo isso, mas o que realmente me impacta, especialmente no palco, é sua afirmação da vida. Uma senhora, [hoje] em cadeira de rodas, que põe todo mundo para dançar e pular em uma grande catarse”, enaltece o músico Felipe Cordeiro.
Ele conta que conheceu Dona Onete na época em que ela tocava com o Coletivo Rádio Cipó, “que foi quando ela começou a sair de uma coisa tradicional para essa conexão com o resto da cena”. Viraram amigos de vida: ele frequentava sua casa para ouvir gravações de músicas novas, ela ia em seus shows e o estimulava a seguir carreira solo. “Ela é uma das grandes madrinhas da minha vida musical e da minha carreira”, afirma.
Para ele – filho do mestre da guitarrada Manoel Cordeiro e, hoje, também um grande nome da cena contemporânea –, Dona Onete representa um ápice da música paraense, de uma coletividade consolidada. “Sou filho de artista paraense de outra geração, então sempre acompanhei um pouco essa questão. Temos artistas que já faziam sucesso, como Fafá de Belém, Pinduca, Beto Barbosa e Banda Calypso, e nos anos 2000 surgiu a galera do tecnobrega, mas havia dificuldade de se afirmar como cena, uma coletividade que é muito diversa e cheia de vertentes”, comenta. “Acho que, para a minha geração, que vem no começo dos anos 2010 – eu, Gaby Amarantos, Pio Lobato, músicos que estudam os mestres da guitarrada etc. –, a Dona Onete simboliza este momento porque ela consegue ser unânime entre artistas e público. Apesar de ela cantar carimbó – uma dessas vertentes –, ela consegue ser moderna, tradicional, contemporânea, ancestral. É uma figura que de certo modo representa todo mundo.”
Nil Almeida, o Vovô: “Ela canta o Pará”
“No começo, ela tinha um pé meio atrás comigo, um baterista na banda?”, brinca Nil Almeida, músico que acompanha Dona Onete desde o primeiro disco, Feitiço caboclo (2012), ao lado do guitarrista e produtor Pio Lobato. Conhecido como Vovô entre os amigos e companheiros de cena, para ele, a construção do carimbó chamegado passa por uma mistura do tradicional com arranjos de música pop. “A gente prioriza o lado dela. Ela participou muito de grupos de carimbó, desse carimbó raiz que ela curte até hoje, feito com o curimbó, as maracas e o sax. Eu e o Pio já tocávamos essas vertentes mais tradicionais, como os mestres da guitarrada, além de fazer arranjos pop. Estávamos ligados a isso quando entramos na banda de Dona Onete, era uma situação legal, porque pegamos uma cantora tradicional e adaptamos com a música pop – com um groove diferente na bateria ou um riff de guitarra – sem esquecer a nossa cultura. A gente arrumou um jeito de tocar para Dona Onete e que também nos agrada”, explica.
Vovô diz que a relação dos músicos com ela é a melhor possível, sempre divertida, com todos contando histórias e vivências sobre e no Pará: “Ela tem uma música que fala sobre a farinha que é uma maravilha. Ela canta sobre aquela época antiga, sobre como fabricar uma farinha de mandioca. Isso é muito interior. Entre outras coisas, como a culinária paraense em ‘Jamburana’ ou o linguajar local em ‘Banzeiro’. Ela canta o Pará, sua poesia é muito forte. É o mais gratificante para nós.”
O baterista compartilha também um momento íntimo entre a cantora e os músicos: uma reza feita antes de cada show. “Acho muito legal, porque tem algo místico nela. Quando fazemos a reza, sentimos algo muito forte, positivo. Uma vez fomos nos apresentar e estava chovendo forte; de repente a chuva parou e fizemos um show maravilhoso – um dos melhores. Outra vez fomos tocar em Brasília e, até pouco tempo antes do show, não tinha ninguém; de repente surgiu uma multidão. Parece que tem um negócio avisando ‘Ó, aqui está Dona Onete, uma entidade’”, afirma. “Ela tem carisma. Quando chega, as pessoas ouvem sua música. Ela é a pessoa mais representativa do Pará, a que tem mais voz. [Ainda bem que] hoje ela gosta da bateria”, finaliza em meio a risos.
Exposição
De 15 de março a 18 de junho de 2023
Terças-feiras a sábado, das 11h às 20h
Domingos e feriados, das 11h às 19h
Concepção e realização: Itaú Cultural
Curadoria: Equipe Itaú Cultural
Consultoria: Josivana de Castro Rodrigues
Projeto expográfico: Géssica Araújo (assistente), Heloísa Vivanco (terceirizada), Núcleo de Infraestrutura e Produção do Itaú Cultural e Patrícia Gondim
Produção: em Belém/PA Geraldinho Magalhães, Marcel Arêde e Viviane Chaves
Itaú Cultural
Avenida Paulista, 149 – próximo à estação Brigadeiro do metrô | Piso Térreo
Terça-feira a sábado, das 11h às 20h Domingos e feriados, das 11h às 19h
Entrada: gratuita
Informações:
Pelo telefone (11) 2168-1777 e WhatsApp (11) 96383-1663
Atualmente, esses números funcionam de segunda-feira a domingo, das 10h às 18h.
E-mail: atendimento@itaucultural.org.br
Acesso para pessoas com deficiência física
Estacionamento: entrada pela Rua Leôncio de Carvalho, 108.
Com manobrista e seguro, gratuito para bicicletas.
Shows
Dona Onete
Dias 16 e 17 de março (quinta-feira e sexta-feira), às 20h
Sala Itaú Cultural
Ingressos disponíveis a partir do dia 8 de março, pela INTI
Capacidade: 224 lugares
Entrada gratuita
Classificação: livre
Aíla Dias
18 e 19 de março (sábado, às 20h, e domingo, às 19h)
Sala Itaú Cultural
Ingressos disponíveis a partir do dia 8 de março, pela INTI
Capacidade: 224 lugares
Entrada gratuita
Classificação: livre
PROTOCOLOS:
• É necessário apresentar o QR Code do ingresso na entrada da atividade até 10 minutos antes do seu início. Após este horário, o ingresso não será mais válido.
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