A trajetória de Dona Onete é marcada por três territórios do Pará: Cachoeira do Arari (Ilha de Marajó), Igarapé-Miri (Baixo Tocantins) e Belém (capital do estado). Em Cachoeira do Arari, ainda criança, ela acompanhava seu tio músico em idas a festividades de São Sebastião e ouvia as primeiras batidas do curimbó, tambor feito do tronco de árvores que dá nome ao ritmo carimbó. Cachoeira do Arari também foi um dos locais onde manteve contato com a natureza – acompanhava suas transformações ao longo do ano, observava o movimento das marés e as fases da Lua. Em Igarapé-Miri, consolidou-se como professora, atuou na política cultural da cidade e foi militante de movimentos sindicais. Foi lá que, em 1989, ela criou o grupo folclórico Canarana, já na estreia com 12 músicas autorais. Após se aposentar como professora, Dona Onete fez morada em Belém – na Pedreira, conhecida como o bairro do samba e do amor –, cidade que abriu os caminhos para que fosse reconhecida como Dona Onete, a rainha do carimbó chamegado.
As encantarias da Amazônia ganham melodia na voz de Dona Onete, e o sincretismo, lugar em suas composições. No Pará, as histórias, o misticismo ligado à natureza e os seres encantados estão presentes no cotidiano do povo. As lendas que constroem o imaginário tomam forma na obra musical da artista, que, ainda na infância, em suas primeiras visitas ao Rio das Flores, em Igarapé-Miri, costumava jogar frutos e flores de jambo-rosa na água, atraindo os botos para escutar suas canções. A febre vinha à noite, mas, atendida pelas benzedeiras da região, recebia preces e cuidados de outras práticas religiosas para impedir que o possível boto transformado em homem viesse atormentá-la.
Desde o rio que guarda a cobra grande até os encantamentos nas garrafas de cura e nos perfumes atrativos das barracas de cheiro do mercado Ver-o-Peso, tudo permeia as criações de Dona Onete. Paralelamente, a devoção ao catolicismo faz de Belém do Pará a cidade que abriga o Círio de Nazaré, uma das maiores festas religiosas do mundo. Essas temáticas estão presentes no trabalho de Dona Onete em composições como “Banho de cheiro”, “Boto namorador” e “Rainha soberana da Amazônia”.
Entre o eixo Encantarias e Religiosidade e o próximo, o Palco, o visitante percorre uma passagem como se fosse um túnel que os transporta para os sons de Belém. Esse espaço teve origem na percepção que a equipe do IC, entre curadores e produtores, teve ao chegar ali: é uma cidade musical. Percorrendo as ruas da capital do Pará ouviam diferentes sonoridades, que surgiam individualmente ou se mesclavam entre elas. Eram músicas variadas, muito carimbó – no original e no estilo chamegado de Dona Onete –, sons de espaços públicos com o Mercado Ver-o-Peso, entre outros. Eles foram gravando esses caminhos sonoros, que agora podem ser ouvidos nessa Ocupação até chegar à vida da cantora pelos palcos brasileiros e internacionais.
Dona Onete aprendeu a cantar intuitivamente, um dom manifestado cedo e presente em toda a sua trajetória: nas canções entoadas quando criança à beira do rio para atrair os botos, nas noites de serestas e carimbó, e nas salas de aula, além de sua participação no Grupo Folclórico Canarana, em 1989, em Igarapé-Miri, no Coletivo Rádio Cipó, em Belém, em meados da década de 1990, e no Festival Terruá Pará. Lançou seu primeiro disco solo, Feitiço caboclo (2013), aos 73 anos – depois vieram mais dois álbuns e um DVD. Ganhou o título que lhe cabe perfeitamente: rainha do carimbó chamegado. Foi a partir de suas composições que o tradicional carimbó se tornou mais brejeiro e sedutor e ganhou o adjetivo, que, acima de tudo, carrega a essência e a cadência do povo caboclo ribeirinho de Miri: o chamego vem do afeto e do suingue das pessoas que lá vivem – como ela canta: “chamego é beijo na boca, chamego é cafuné, chamego é abraço apertado”. Reconhecida no Brasil e internacionalmente, Dona Onete é inspiração para outras tantas artistas do Pará ao mostrar que o lugar da mulher no carimbó, antes destinado apenas às costureiras e às dançarinas, vai além: é na criação, no canto, no toque do tambor e na dança.
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De 15 de março a 18 de junho de 2023
Terças-feiras a sábado, das 11h às 20h
Domingos e feriados, das 11h às 19h
Concepção e realização: Itaú Cultural
Curadoria: Equipe Itaú Cultural
Consultoria: Josivana de Castro Rodrigues
Projeto expográfico: Géssica Araújo (assistente), Heloísa Vivanco (terceirizada), Núcleo de Infraestrutura e Produção do Itaú Cultural e Patrícia Gondim
Produção: em Belém/PA Geraldinho Magalhães, Marcel Arêde e Viviane Chaves
Itaú Cultural
Avenida Paulista, 149 – próximo à estação Brigadeiro do metrô | Piso Térreo
Terça-feira a sábado, das 11h às 20h
Domingos e feriados, das 11h às 19h
Entrada: gratuita
Informações:
Pelo telefone (11) 2168-1777 e WhatsApp (11) 96383-1663
Atualmente, esses números funcionam de segunda-feira a domingo, das 10h às 18h.
E-mail: atendimento@itaucultural.org.br
Acesso para pessoas com deficiência física
Estacionamento: entrada pela Rua Leôncio de Carvalho, 108.
Com manobrista e seguro, gratuito para bicicletas.
Shows
Dona Onete
Dias 16 e 17 de março (quinta-feira e sexta-feira), às 20h
Sala Itaú Cultural
Ingressos disponíveis a partir do dia 8 de março, pela INTI
Capacidade: 224 lugares
Entrada gratuita
Classificação: livre
Aíla Dias
18 e 19 de março (sábado, às 20h, e domingo, às 19h)
Sala Itaú Cultural
Ingressos disponíveis a partir do dia 8 de março, pela INTI
Capacidade: 224 lugares
Entrada gratuita
Classificação: livre
PROTOCOLOS:
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• A bilheteria presencial abre uma hora antes do evento começar.
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