Bruna Canepa e Ciro Miguel
São Paulo (SP)
Apartamento de 1 Km / Casa Cidade / Casa Fluxos, 2014
Partindo do tensionamento extremo de escalas e funções, a unidade habitacional representa a cidade. Nesta série de desenhos e colagens, a urbe é entendida para além da sua geografia. É o aspecto simbólico que protagoniza a cena. No uso das típicas e cifradas representações bidimensionais da arquitetura e do urbanismo, a ficção é reforçada pelas distorções ópticas vindas da perspectiva isométrica (em que o observador está situado no infinito). Diante do individualismo exacerbado, podemos pensar que a casa se transformou no universo do homem. Em oposição – sabendo que atualmente mais da metade da população do mundo vive em cidades –, teríamos, então, o triunfo da urbanização contaminando o indivíduo na sua esfera mais íntima.
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lista de trabalhos
Abridores de Letras de Pernambuco, 2013
Ainda Paisagem [série Perto Demais], 2008
Apartamento de 1 Km / Casa Cidade /
Casa Fluxos, 2014
Arqueologia Afetiva Urbana, 2011
Av. Celso Garcia 2004/2014, 2004 e 2014
Cidade Estacionamento, 2012 e Parking.ttf, 2012
Domesticidades: Guia de Bolso, 2010
Eu <3 Camelô, 2009 e Faixa de Areia, 2009
Impressão de Objetos, 2007-2014
Jornal Morar, 2011 e Monumento, 2011
Letras que Flutuam – Mapeamento dos Abridores de Letras da Amazônia, 2014
lista de autores
CASA CIDADE
Quem olha a casa cidade pela janela de um avião não entende ao certo se é uma casa ou uma cidade.
Os cômodos estão dispersos ao longo da sua área, como pequenas ilhas num oceano, conectados pela malha urbana.
A cidade não está dentro da casa; a casa é a cidade.
O corredor é a avenida, o quarto é uma casa, o chuveiro é o lago, a janela é um mirante, a sala é uma praça, a televisão um cinema a céu aberto e o exercício é uma escalada na montanha (que, aqui, é o cume de um arranha-céu).
Uma escala monumental para as atividades banais de uma só pessoa.
CASA FLUXO
Trens, pessoas, carros, bicicletas, navios, aviões. São os fluxos da cidade que definem o volume da casa. Um volume que, incapaz de interromper todos esses fortes vetores, os incorporou.
Um sistema de mobilidade de uma cidade inteira atravessa a casa, como parte integrante do seu funcionamento interno – as suas entranhas. O fluxo não para e, portanto, são os caminhos da cidade que deformam os volumes dos espaços privados, como uma rocha esculpida ao longo do tempo.
A casa apresenta um paradoxo: um sólido estacionado porém dinâmico. Submetida ao movimento urbano, os seus espaços estão condenados à mudança permanente.
APARTAMENTO DE 1 KM
Rooms are buildings and the apartment is the city: a domesticated city.
O apartamento de 1 km extrapola as dimensões e a experiência de um lar típico. Não só a escala urbana está presente, como também os próprios artefatos e superfícies da cidade: edifícios, casas, jardins, letreiros, neons, esquinas, acidentes geográficos, postes, pontes, carros, ruínas, dia e noite.
Os cômodos (alguns deles móveis) estão dispersos ao longo do apartamento, que é marcado a cada 100 metros, indicando o quanto já se percorreu, mas também pontuando eventos específicos. É possível se locomover de carro, como numa cidade, ou simplesmente andar entre os cômodos da casa. As distâncias e as situações são levadas ao extremo.
No fim do quilômetro, uma pequena porta se abre para um foguete, um arranha-céu prestes a decolar, como se o único alívio ao mundo construído fosse embarcar numa viagem pelo espaço infinito.
sobre os autores
Bruna e Ciro são jovens arquitetos e fundaram o estúdio Miniatura em 2011. A dupla participou de exposições individuais no Studio-X Rio (Universidade Columbia), no Rio de Janeiro, e na Galeria Aurora, em São Paulo. Miniatura foi selecionado para participar da X Bienal de Arquitetura de São Paulo e do OfficeUS, na Bienal de Arquitetura de Veneza. Eles contribuem frequentemente para publicações sobre arquitetura no Brasil e no exterior.