No centro de uma sala fechada que abriga as peças mais raras da mostra Espaço Herculano Pires – Arte no dinheiro repousa a Peça da Coroação. Ela foi cunhada em 1822 pelo então célebre gravador Zeferino Ferrez e fabricada na Casa da Moeda do Rio de Janeiro. Naquele ano, em comemoração à sua ascensão ao trono como imperador do Brasil, D. Pedro I autorizou a cunhagem de moedas no país – com o seu rosto. Este exemplar faz parte de um lote inicial de 64 peças, sendo que atualmente existem apenas 16, e é considerado a moeda mais valiosa da numismática brasileira.
A sala especial é a única, em todo o espaço expositivo predominantemente branco, que tem paredes azuis. No ar, ressoam as músicas Heloisa e Lua Branca, de Chiquinha Gonzaga, esta última em uma versão de Maria Teresa Madeira; Mazurka-Choro e Gavotta-Choro, de Heitor Villa-Lobos. De Pixinguinha tem Rosa, na versão de Hamilton de Holanda; Fala Baixinho gravada por Clementina De Jesus e João Da Bahiana, e Carinhoso. Fazem parte da playlist, ainda, Prece, de Alberto Nepomuceno, executada por Marcus Viana; Aquarela do Brasil, de Ary Barroso, interpretada pelo Zimbo Trio, e Alma Brasileira, de Radamés Gnattali.
Peça da Coroação guarda uma interessante história: ao perceber que a moeda não atendia às suas expectativas, o imperador ordenou a suspensão da cunhagem. A peça havia sido chapada com o escudo das armas imperiais brasileiras e a coroa real portuguesa, sem a legenda Constitucionalis (“constitucional”) e o complemento ET PERPETUUS BRASILIÆ DEFENSOR (“e perpétuo defensor do Brasil”). O imperador é representado com o busto nu, usando uma coroa de folhas de louro. Após uma modificação, a segunda versão da moeda, de 1823, trazia D. Pedro I fardado.
Além desta preciosidade, encontram-se ali outras raridades como a moeda de ouro do Brasil já independente aprovada por D. Pedro I. Também, as primeiras moedas da Independência, que mantêm o padrão daquele período, com pequenas alterações e adequações à nova situação política. Nas versões em ouro e prata, as armas de Portugal foram substituídas pelas do império.
Outras, trazem o perfil de D. Pedro II, segundo e último monarca do Império no Brasil e considerado um patrono das artes e das ciências, cujas iniciativas foram fundamentais para incrementar os primeiros museus brasileiros. Ele assumiu o trono com cinco anos, após a abdicação do pai, Pedro I, e governou o país por 49 anos. A leitura e reflexão histórica que esta moeda traz para a atualidade é a escravidão como motivo de desestabilização da monarquia. Por mais que as leis abolicionistas tenham sido gradativas, atingiram a propriedade privada dos senhores de engenho e dos fazendeiros, os súditos mais fiéis de D. Pedro II.
A raridade de uma moeda considera aspectos como o número de peças emitidas, o contexto, o estado de conservação, os erros no processo de cunhagem e a data de lançamento. Vale ressaltar que moedas antigas não necessariamente são raras, pois o que importa é a sua classificação e as suas especificidades.
Fatores históricos também podem influenciar, como dispersão, retirada de circulação e fusão. Algumas moedas cunhadas em número elevado, com o tempo, podem ser consideradas mais incomuns do que outras cunhadas em quantidades consideravelmente menores. Assim, o grau de raridade se refere à dificuldade de encontrar determinada moeda.
Abertura: 7 de dezembro de 2023 – permanente
Bilíngue: português/inglês
Concepção e realização: Itaú Cultural
Curadoria: Vagner Porto
Textos de obras de arte: Leno Veras
Projeto expográfico: Estúdio Risco
Itaú Cultural
Avenida Paulista, 149, 6º andar – próximo à estação de metrô Brigadeiro
Visitação: Terça-feira a sábado, das 11h às 20h; domingos e feriados, das 11h às 19h.
Entrada: gratuita
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