“Mas o otimismo necessário, a limitação intelectual, eis onde não posso chegar.” Assim Mario Pedrosa escreveu ao amigo Lívio Barreto Xavier, em carta de 1925, após dar início a sua longa militância política e socialista que só terminou com sua morte em 1981.
Aos 25 anos, Pedrosa, por ser um intelectual, sentia-se na obrigação moral de engajar-se na militância partidária revolucionária. Ao mesmo tempo, o partido que o abrigaria para lutar pela revolução socialista impunha regras rígidas quanto à submissão completa às decisões da maioria ou da direção política. Somava-se a este quadro, o imperativo revolucionário do otimismo permanente pela ideia do triunfo inevitável da revolução dos povos.
Frente a esse quadro complexo digladiava-se o jovem militante do Partido Comunista Brasileiro (PCB), fundado apenas três anos antes, em 1922, inspirado no triunfante Partido Bolchevique, líder da igualmente jovem União das Repúblicas Socialista Soviéticas (URSS), nascida em 1922 e fruto da guerra civil que se instaurou em 1917 após a Revolução Bolchevique, também denominada Revolução Russa ou Revolução Soviética. Mario Pedrosa vivenciou, como toda sua geração, o nascimento e a infância do sistema político que revolucionou a própria política e polarizou todo o século XX.
Dividido entre o entusiasmo militante – inspirado na revolução russa que derrubou uma das mais potentes e cruéis monarquias do planeta – e sua vibrante e avassaladora capacidade crítica e de formulação intelectual, Pedrosa jamais aquietou-se no conforto de posições políticas oportunistas. Ao contrário, até o final de sua vida, sempre optou pela agudeza da crítica e pela permanência de sua inteligência autônoma, inquieta e criativa à serviço do que entendia como mais justo e certeiro para o triunfo das ideias socialistas e para a emancipação dos trabalhadores.
A integridade pessoal que exerceu na política se estendeu às elaborações que, como crítico de arte, abriram novas perspectivas de análise da arte brasileira e internacional. Sua estreia como crítico foi em 1933, em uma célebre conferência que proferiu sobre a artista plástica alemã Käthe Kollwitz, que trazia para seus desenhos, gravuras e quadros a condição humana degradante em que viviam as classes mais oprimidas na primeira metade do século XX.
Há de se notar que, navegando pela crítica das artes desde os anos 1930, Pedrosa também ficou distante da reverência obrigatória naquele período de se avaliar a obra de arte exclusivamente por sua dimensão social, como determinava a visão de um marxismo primário ditado pelo chamado “realismo socialista”. Estendendo seu olhar para além do conteúdo das obras, Pedrosa as analisava também pelos problemas da forma, avançando na psicologia da Gestalt, uma teoria sobre a percepção humana. Em 1949 redigiu uma tese sobre a análise gestáltica na arte que é reconhecida tanto no Brasil quanto no exterior, denominada Da natureza afetiva da forma na obra de arte, praticamente inédita até 1979 quando foi publicada no livro Arte, forma e personalidade, da extinta Kairós Editora.
Se foi pioneiro na perspectiva da política de esquerda no Brasil, também o foi com seu olhar aguçado e sólida argumentação teórica ao refletir sobre as artes. Sua visão inovadora, detectada pelos estudiosos, entre outras qualidades, pela originalidade de seu método crítico, que trabalhava sob a ótica das tendências artísticas internacionais e da realidade local, marcou e ainda marca a crítica de arte brasileira e internacional, sendo uma referência inquestionável ainda nos nossos dias.
Com toda essa expressiva contribuição à política e à crítica de arte, Pedrosa se afirmou como um dos ícones da inteligência brasileira e uma espécie de farol para uma gama imensa de intelectuais, artistas e políticos. No dizer do sociólogo Luciano Martins, que também foi seu genro e conviveu com ele durante trinta anos: “Mario Pedrosa não era apenas uma pessoa. Era também um fenômeno intelectual e quase uma instituição” –trecho extraído de A utopia como modo de vida – fragmentos de lembrança de Mario Pedrosa, publicado em Mario Pedrosa e o Brasil, 2001.
O texto completo e a publicação poderão ser acessados a partir da abertura da Ocupação Mario Pedrosa, no dia 25, pelo link http://itaucultural.org.br/ocupacao/mario-pedrosa]
José Castilho Marques Neto é doutor em filosofia pela Universidade de São Paulo (USP) e docente da Universidade Estadual Paulista (Unesp). É pesquisador, autor, editor, gestor público e consultor internacional nas áreas cultural e educacional. Publicou, entre outras obras, o livro Solidão revolucionária – Mário Pedrosa e as origens do trotskismo no Brasil (2022).
25 de outubro de 2023 a 18 de fevereiro de 2024
Concepção e realização: Itaú Cultural
Curadoria: Equipe Itaú Cultural (Núcleo de Artes Visuais e de Acervos e Núcleo Enciclopédia e de Memória) e Marcos Augusto Gonçalves
Consultoria: Quito Pedrosa
Projeto expográfico: Francine Moura e Davi Brischi
Visitação: de terça-feira a sábado, das 11h às 20h;
domingos e feriados, das 11h às 19h.
Acesso para pessoas com deficiência física
Entrada gratuita
Itaú Cultural
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